quarta-feira, 29 de julho de 2009

“Há abusos em nome de Deus”


“Há abusos em nome de Deus”
3 de Julho de 2009, às 20:14h
Jornalista relata os danos do assédio espiritual cometido por líderes evangélicos
Kátia Mello
A igreja evangélica está doente e precisa de uma reforma. Os pastores se tornaram intermediários entre Deus e os homens e cometem abusos emocionais apoiados em textos bíblicos. Essas são algumas das afirmações polêmicas da jornalista Marília de Camargo César em seu livro de estréia, Feridos em nome de Deus (editora Mundo Cristão), que será lançado no dia 30. Marília é evangélica e resolveu escrever depois de testemunhar algumas experiências religiosas com amigos de sua antiga congregação.
ENTREVISTA - MARÍLIA DE CAMARGO CÉSAR
QUEM ÉMarília de Camargo César, 44 anos, jornalista, casada, duas filhas
O QUE FEZEditora assistente do jornal O Valor, formada pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero
O QUE PUBLICOUSeu livro de estréia é Feridos em nome de Deus (editora Mundo Cristão)
ÉPOCA – Por que você resolveu abordar esse tema?
Marília de Camargo César – Eu parti de uma experiência pessoal, de uma igreja que freqüentei durante dez anos. Eu não fui ferida por nenhum pastor, e esse livro não é nenhuma tentativa de um ato heróico, de denúncia. É um alerta, porque eu vi o estado em que ficaram meus amigos que conviviam com certa liderança. Isso me incomodou muito e eu queria entender o que tinha dado errado. Não quero que haja generalizações, porque há bons pastores e boas igrejas. Mas as pessoas que se envolvem em experiências de abusos religiosos ficam marcadas profundamente.
ÉPOCA – Qual foi à história que mais a impressionou?
Marília – Uma das histórias que mais me tocaram foi a de uma jovem que tem uma doença degenerativa grave. Em uma igreja, ela ouviu que estava curada e que, caso se sentisse doente, era porque não tinha fé suficiente em Deus. Essa moça largou os remédios que eram importantíssimos no tratamento para retardar os efeitos da miastenia grave (doença autoimune que acarreta fraqueza muscular). O médico dela ficou muito bravo, mas ela peitou o médico e chegou a perder os movimentos das pernas. Ela só melhorou depois de fazer terapia. Entendeu que não precisava se livrar da doença para ser uma boa pessoa.
ÉPOCA – Que tipo de experiência você considera como abuso religioso e que marcas são essas?
Marília – Meu livro é sobre abusos emocionais que acontecem na esteira do crescimento acelerado da população de evangélicos no Brasil. É a intromissão radical do pastor na vida das pessoas. Um exemplo: uma missionária que apanha do marido sistematicamente e vai parar no hospital. Quando ela procura um pastor para se aconselhar, ele fala assim para ela: “Minha filha, você deve estar fazendo alguma coisa errada, é por isso que o teu marido está se sentindo diminuído e por isso ele está te batendo. Você tem de se submeter a ele, porque biblicamente a mulher tem de se submeter ao cabeça da casa. Então, essa mulher, que está com a autoestima lá embaixo, que apanha do marido - inclusive pelo Código Civil Brasileiro ele teria de ser punido - pede um conselho pastoral e o pastor acaba pisando mais nela ainda. E ele usa a Bíblia para isso. Esse é um tipo de abuso que não está apenas na igreja pentecostal ou neopentecostal, como dizem. É um caso da Igreja Batista, em que, teoricamente, os protestantes históricos têm uma reputação melhor.
ÉPOCA – Seu livro questiona a autoridade pastoral. Por quê?
Marília – As igrejas que estão surgindo, as neopentecostais, e não as históricas, como a presbiteriana, a batista, a metodista, que pregam a teologia da prosperidade, estão retomando a figura do “ungido de Deus”. É a figura do profeta, do sacerdote, que existia no Antigo Testamento. No Novo Testamento, não existe mais isto. Jesus Cristo é o único mediador. Então o pastor dessas igrejas mais novas está se tornando o mediador. Para todos os detalhes da sua vida, você precisa dele. Se você recebeu uma oferta de emprego, o pastor pode dizer se deve ou não aceitá-la. Se estiver paquerando alguém, vai dizer se deve ou não namorar aquela pessoa. O pastor, em vez de ensinar a desenvolver a espiritualidade, determina se aquele homem ou aquela mulher é a pessoa da sua vida. E o pastor está gostando de mandar na vida dos outros, uma atitude que abre um terreno amplo para o abuso.
ÉPOCA – Você também fala que não é só culpa do pastor.
Marília – Assim como existe a onipotência pastoral, existe a infantilidade emocional do rebanho, que é o que o Sérgio Franco, um dos pastores psicanalistas entrevistados no livro, fala. A grande crítica do Freud em relação à religião era essa. Ele dizia que a religião infantiliza as pessoas, porque você está sempre transferindo as suas decisões de adulto - que são difíceis - e a figura do sagrado, no caso aqui o líder religioso, para a figura do pai ou da mãe - o pastor, a pastora. É a tendência do ser humano em transferir responsabilidade. O pastor virou um oráculo. É mais fácil ter alguém, um bode expiatório, para pôr a culpa nas decisões erradas tomadas.
“O pastor está gostando de mandar na vida dos outrose receber presentes. Isso abre espaço para os abusos”
ÉPOCA – Quais são os grandes males espirituais que você testemunhou?
Marília – Eu vi casamentos se desfazer, porque se mantinham em bases ilusórias. Vi também pessoas dizendo que fazer terapia é coisa do Diabo. Há pastores contra a terapia que afirmam que ela fortalece a alma e a alma tem de ser fraca; o espírito é que tem que ser forte. E dizem isso supostamente apoiados em textos bíblicos. Dizem que as emoções têm de ser abafadas e apenas o espírito ser fortalecido. E o que acontece com uma teologia dessas? Psicoses potenciais na vida das pessoas que ficam abafando as emoções. As pessoas que aprenderam essa teologia e não tiveram senso crítico para combatê-la ficaram muito mal. Conheci um rapaz com muitos problemas de depressão e de autoestima que encontrou na igreja um ambiente acolhedor. Ele dizia ter ressuscitado emocionalmente. Só que com o passar dos anos, o pastor se apoderou dele. Mas ele começou a perceber que esse pastor é gente, que gosta de ganhar presentes e que usa a Bíblia para se justificar. Uma das histórias que mais me tocou foi a de uma jovem que tem uma doença degenerativa grave. Ela foi para uma dessas igrejas e ouviu que se estivesse sentindo ainda doente era porque não tinha fé suficiente em Deus. Essa moça largou os remédios que eram importantíssimos no tratamento para retardar os efeitos da miastenia grave (doença auto-imune que acarreta fraqueza muscular). O médico dela ficou muito bravo e não a autorizou. Mesmo assim, ela peitou o médico e chegou a perder os movimentos das pernas. Ela só melhorou depois de fazer terapia. Ela entendeu que não precisava se livrar da doença para ser uma boa pessoa.
ÉPOCA – Por que demora tanto tempo para a pessoa perceber que está sendo vítima?
Marília – Os abusos não acontecem da noite para o dia. A pessoa que está sendo discipulada, que aprende com o pastor o que a Bíblia diz, desenvolve esse relacionamento aos poucos. No primeiro momento, ela idealiza a figura do líder, como alguém maduro, bem preparado. É aquilo que fazemos quando estamos apaixonados: não vemos os defeitos. O fiel vê esse líder como um intermediário, como um representante de Deus que tem recados para a vida dele, um guru. E o pastor vai ganhando a confiança dele num crescendo, como numa amizade. Esse líder, que acredita que Deus o usa para mandar recados para sua congregação, passa a ser uma referência na vida do fiel. O fiel, pro sua vez, sente uma grande gratidão por aquele que o ajudou a mudar sua vida para melhor. Ele se sente devedor do pastor e começa, então, a dar presentes. O fiel quer abençoar o líder porque largou as drogas, ou parou de beber, ou parou de bater na mulher, ou porque arrumou um emprego e está andando na linha. E começa a dar presentes de acordo com suas posses. Se for um grande empresário, ele dá um carro importado para o pastor. Isso eu vi acontecer várias vezes. O pastor, por sua vez, gosta de receber esses presentes. É quando a relação se contamina, se torna promíscua. E o pastor usa a Bíblia para dizer que esse ato é bíblico. O poder está no uso da Bíblia para legitimar essas práticas.
ÉPOCA – Qual é o limite da autoridade pastoral?
Marília – O pastor tem o direito de mostrar na Bíblia o que ela diz sobre certo tema. Como um bom amigo, ele tem o direito de dar um conselho. Mas ele tem de deixar claro que aquilo é apenas um conselho. Pode até falar que o resultado disso ou daquilo pode ser ruim para a vida do fiel. Mas ele não pode mandar a pessoa fazer algo em nome de Deus. O que mais fere as pessoas é ouvir uma ordem em nome de Deus. Se é Deus, então prova! Se Deus fala para o pastor, por que Ele não fala para o fiel? Eles estão sendo extremamente autoritários.
ÉPOCA – Você afirma que muitos dos pastores não agem por má-fé, mas por uma visão messiânica. Explique.
Marília – É uma visão messiânica para com seu rebanho. Lutero (teólogo alemão responsável pela reforma protestante no século XVI) deve estar dando voltas na tumba. Porque o pastor evangélico virou um papa que é a figura mais criticada no catolicismo, o inerrante. E não existe essa figura, porque somos todos errantes, seres faltantes, como já dizia Freud. Pastor é gente. E é esse pastor messiânico que está crescendo no evangelismo. Existe uma ruptura entre o Antigo e o Novo Testamento, que é a cruz. A reforma de Lutero veio para acabar com a figura intermediária e a partir dela veio à doutrina do sacerdócio universal. Todos têm acesso a Deus. Uma das fontes do livro disse que precisamos de uma nova reforma e eu concordo com ela. Essa hierarquização da experiência religiosa, que o protestante tanto combateu no catolicismo, está se propagando. Você não pode mais ter a conversa direta com o divino. Porque tem aquela coisa da “oração forte” do pastor. Você acha que ele ora mais que você, que ele tem alguma vantagem espiritual e, se você gruda nele, pega uma lasquinha. Isso não existe. Somos todos iguais perante Deus.
ÉPOCA – Se a igreja for questionada em seus dogmas, ela não deixará de ser igreja?
Marília – Eu não acho isso. A igreja tem mesmo de ser questionada, inclusive há pensadores cristãos contemporâneos que questionam o modelo de igreja que estamos vivendo e as teologias distorcidas, como a teologia da prosperidade, que são predominantemente neopentecostais e ensinam essa grande barganha. Se você não der o dízimo, Deus vai mandar o gafanhoto. Simbolicamente falando, Ele vai te amaldiçoar. Hoje o fiel se relaciona com o Divino para as coisas darem certo. Ele não se relaciona pelo amor. Essa é uma das grandes distorções.
ÉPOCA – Por que você diz que existe uma questão cultural no abuso religioso?
Marília – Porque o brasileiro procura seus xamãs, e isso acontece em todas as religiões. O brasileiro é extremamente religioso. A ÉPOCA até publicou uma matéria sobre isso, dizendo que a maioria acredita em algo e se relaciona com isso, tentando desenvolver seu lado espiritual. O brasileiro gosta de ter seu oráculo. A pessoa que vem do catolicismo, onde há centenas de santos, e passa a ser evangélica transfere aquela prática e cultura do intermediário para o protestantismo, e muitas igrejas dão espaço para isso. O pastor Edir Macedo (da igreja Universal) trouxe vários elementos da umbanda, do candomblé, porque ele é convertido. Ele diz que o povo precisa desses elementos -que ele chama de pontos de contato - para ajudar a materializar a experiência religiosa. A Bíblia condena tudo isso.
ÉPOCA – No livro você dá alguns alertas para não cair no abuso religioso. Fale deles.
Marília – Desconfie de quem leva a glória para si. Um conselho é prestar atenção nas visões megalomaníacas. Uma das características de quem abusa é querer que a igreja se encaixe em suas visões, como quere ganhar o Brasil para Cristo e colocar metas para isso. E aquele que não se encaixar é um rebelde, um feiticeiro. Tome cuidado com esse homem. Outra estratégia é perguntar a si mesmo se tem medo do pastor ou se pode discordar dele. A pessoa que tem potencial para abusar não aceita que discorde dela, porque é autoritária. Outra situação é observar se o pastor gosta de dinheiro e ver os sinais de enriquecimento ilícito. São esses geralmente os que adoram ser abençoados e ganhar presentes. Cuidado com esse cara.



segunda-feira, 27 de julho de 2009

Que País é Este?


Que País é Este?

Por Diamantino Trindade
http://br.mc332.mail.yahoo.com/mc/compose?to=tynus_ciencia@yahoo.com.br

No longo do tempo não foram ape­nas os católicos que atacaram a Umban­da, pois os evangélicos já fazem isso há muito tempo. Jefferson Magno da Costa, da Assembléia de Deus, no seu livro Porque Deus condena o Espiritismo, de 1987, procura mostrar que é possível doutrinar espíritas, umbandistas e adeptos do Candomblé.

Na capa do livro podemos ler:

“Você está preparado para evange­lizar adeptos do Kardecismo, da Um­banda e Candomblé no maior país espí­rita do mundo, o Brasil? Você sabe como demonstrar que a evocação dos espí­ritos de pessoas falecidas, a reencar­nação, o jogo de búzios, a cartomancia, os horóscopos e as doutrinas espíritas são condenados por Deus? Se não sabe, este livro lhe ensinará”.

O pastor Geziel Gomes escreve no livro:

“Devemos reconhecer que temos si­do tomados de certa indiferença ante o enorme perigo que representa a disse­minação do Espiritismo no Brasil. Agora, no entanto, Deus nos permite ser muni­dos e municiados para uma batalha que se afigura extremamente árdua, mas de vitória garantida por Jesus Cristo. Este livro pode e deve ser recomendado para leitura devo­cio­nal, para estudo em classe, para aulas regulares de seminá­rios e colégios afins, bem como para classes bíblicas especialmente criadas pa­ra este propó­sito. Não nos basta sa­ber que Deus condena o Es­piritismo. É con­veniente expor as ra­zões. Este livro res­ponderá a inúmeras perguntas, com­ba­terá inú­meras here­sias, dirimirá inú­me­ras dú­vidas e ilumi­na­rá inúmeras men­tes. Tal será a sua missão”.

Podemos perceber a intolerância religiosa tão em moda nos dias de hoje.

É possível também constatar que o autor é um pesquisador como vemos no capítulo intitulado “Porque Deus con­dena a Umbanda e o Candomblé” onde aborda a origem da Umbanda:

“Os dirigentes umbandistas tem pro­curado apresentar essa manifestação do culto espírita em nosso país com uma fa­chada atra­ente, po­pular, reu­nindo tam­­bém ele­mentos do catoli­cismo Ro­ma­­no e do espiritis­mo karde­cista.
Segundo os um­­bandistas, o iní­cio da Umbanda tem uma data: 15 de no­vem­bro de 1908, atra­vés do médium Zélio Fernandino de Moraes (Israel Cys­neiros. Umbanda: poder e magia. Rio de Janeiro. 1983. p.100)”.

Ao longo do livro o autor mostra rela­tos de umbandistas descontentes com a religião e aponta como é possível dou­triná-los.
Diz ainda que é necessário que as igrejas evangélicas no Brasil or­gani­zem grupos específicos de evan­ge­lização de espíritas. É importante que entre os componentes desses grupos haja evan­gélicos convertidos do espiri­tis­mo kar­decista ou de qualquer uma das ten­dên­cias espíritas afro-brasi­lei­ras.

Não podemos esquecer que alguns des­ses milionários pastores da atuali­da­de foram umbandistas, por isso sa­bem como “doutrinar os Exus” nos seus cultos televisivos. Um deles distribuía fichas para consultas num conhecido terreiro em Itacuruçá.

Fico à disposição desses pastores para ser “doutrinado” ou para que dou­trinem Exus de verdade.

Vale a pena lembrar que em março de 2009, no Rio de Janeiro, Tupirani da Hora Lores, pastor da Igreja Geração Jesus Cristo, e o fiel Afonso Henrique Alves Lobato foram acusados dos crimes de intolerância religiosa, injúria qua­lificada e incitação ao crime e tiveram a prisão preventiva decretada em 19 de junho, pela juíza Maria Elisa Lubanco, da 20ª Vara Criminal. Entretanto, os dois foram soltos algumas semanas de­pois, após conseguirem um habeas cor­pus concedido pelo desembargador Luiz Felipe Haddad, da 6ª Câmara Criminal.

Afonso divulgou na internet, em mar­ço, um vídeo no qual faz ofensas às religiões afro-brasileiras, às polícias Civil e Militar e à imprensa. O vídeo foi publi­cado com o consentimento do pastor Tupirani. Nas imagens, Afonso afirma, entre outras coisas, que “todo pai de santo é homossexual” e que “centro espírita é lugar de invocação do diabo”. Eles foram os primeiros presos em todo o país com base no crime de intolerância religiosa, previsto na Lei 7.437, de 1985 — mais conhecida como Lei Caó.
Como diz Renato Russo: que pais é este? Que país é este onde criminosos, corruptos e intolerantes religiosos rece­bem hábeas corpus após afrontar a lei e seus semelhantes?

Umbandista: se você não quer “ser dou­trinado” por esses seres inominá­veis, que tal começar a valorizar a sua religião e deixar os egos de lado para que unidos possamos mostrar que a Umbanda não é melhor nem pior do que as outras. Apenas uma legitima mani­festação de fé que nos foi trazida do Astral Superior pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, Zélio de Moraes e tantos outros abnegados trabalhadores a ser­viço da caridade.

O inciso 42 do artigo 5° da Constituição Federal prevê a prática do racismo como crime inafiançável. O autor desta lei - deputado Carlos Alberto Caó (PDT-RJ) - integrava, à época a Assembléia Nacional Constituinte de 1988. Carlos Alberto Caó destacou-se na luta em defesa dos direitos dos negros no Brasil. Como parlamentar, legislou a respeito da tipificação do crime de racismo, lei que leva o seu nome.


Carlos Alberto Caó
UEE-RJ homenageia Caó
25/11/2008


O ex-deputado federal Carlos Alberto Caó de Oliveira, foi homenageado no último dia 20/11/2008 pela União Estadual dos Estudantes do Rio de Janeiro (UEE-RJ) durante a cerimônia de Abertura da Bienal de Arte e Cultura, momento em que recebeu placa homenageando-o como um dos principais ativistas da causa negra no Brasil.

Caó é jornalista e começou sua militância no movimento estudantil bem jovem, por volta dos 15 anos de idade.Ele foi o primeiro presidente negro da União Estadual dos Estudantes da Bahia (UEE-BA) e também foi o primeiro negro a ocupar uma vice-presidência da UNE, quando esteve à frente da pasta de relações internacionais.

Outro destaque na sua vida foi sua ação política enquanto parlamentar da bancada do PDT-RJ quando conseguiu aprovar a Lei que criminaliza a prática do racismo no Brasil. Sua ação foi tão marcante que a lei foi batizada com seu nome – Lei Caó – e hoje é um importante instrumento na luta contra o preconceito racial e a igualdade para todos.

A iniciativa da homenagem foi da Diretoria de Diversidade Étnica da UEE-RJ que é ocupada pelo estudante e militante da JS/PDT – RJ Bruno Franco, que disse: “Caó é um símbolo da luta contra o racismo no país. Fazer esta homenagem é apenas um singelo agradecimento de todos os estudantes do Rio de Janeiro, negros ou não, por todo seu passado e presente de luta contra o preconceito racial. A UEE-RJ luta contra o preconceito de qualquer tipo e esta homenagem marca a posição da entidade neste sentido”, garantiu.

matéria/fonte: http://www.juventudesocialistapdtrj.blogspot.com/

sábado, 18 de julho de 2009

Candomblé e Umbanda são declarados patrimônios imateriais


O candomblé foi declarado patrimônio imaterial do Estado do Rio de Janeiro. A lei foi sancionada pelo governador em exercício Luiz Fernando de Souza Pezão e publicada ontem no Diário Oficial. O projeto foi proposto pelo deputado Gilberto Palmares (PT). O mesmo projeto para a umbanda já foi aprovado pela Alerj e aguarda sanção do governador.


A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa comemorou a notícia nesta sexta. Para Jorge Mattoso, secretário da comissão, a lei vai ajudar a diminuir o preconceito.


- Para a gente foi muito importante. Vai significar um resgate da auto-estima e elevar o respeito frente a atos de intolerância religiosa. Isso vai abrir portas, pois vamos poder fechar convênios com várias entidades.

Mattoso espera que a lei estadual ajude na aprovação de uma lei federal. A comissão fez um encaminhamento do pedido, durante a 2ª Conferência de Igualdade Racial, realizada em junho, em Brasília.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Os guardiões incompreendidos - Douglas Fersan


Provavelmente uma das manifestações divinas mais difíceis de se entender é a dualidade. O pensamento ocidental, maniqueísta, calcado em valores cristãos – devidamente distorcidos de acordo com interesses políticos e econômicos ao longo da História – estabeleceu um padrão de pensamento em que existem duas forças antagônicas: o bem e o mal, sempre em constante batalha pelo domínio do mundo e da alma de seus habitantes. Assim, tudo que não segue a estética e a moral ocidental-cristã é imediatamente associado à sua antítese: as forças maléficas regidas por seres do mal, chamado de demônios.
Esse tipo de pensamento traz em si um paradoxo, já que o próprio livro sagrado do Cristianismo afirma que Deus é onipresente. Estando em todas as partes, Deus estaria também nas regiões trevosas da espiritualidade – regiões que muitos tomaram por costume chamar de inferno.
Então Deus estaria no inferno? Parece uma heresia total fazer tal afirmação, mas sendo Ele um ser onipresente, deve (ou deveria) estar em todos os lugares.
A crença de um inferno de penas eternas e governado por um ser excepcionalmente maldoso também faz parte do imaginário cristão e, dentro desse raciocínio contraditório, não haveria lugar para Deus nessa região – mesmo sendo Ele onipresente (?).
Dentro da filosofia que norteia o pensamento umbandista, descartamos essa idéia de inferno. Admitimos a existência de regiões espirituais trevosas, densas, onde se encontram aqueles espíritos que não atingiram a elevação moral esperada, elevação essa que pode ser conquistada um dia, não necessariamente através de expiações, mas também do trabalho árduo na espiritualidade. No entanto, nessas regiões ainda reina uma espécie de barbárie espiritual, já que os valores morais de seus habitantes não são os mais elevados, necessitando assim de alguém que controle suas ações, não permitindo que outras esferas (como a dos encarnados, por exemplo) sejam alvos dos ataques e obsessão desses espíritos. É nesse contexto que começamos a entender o papel dos Exus, os guardiões tão incompreendidos e injustiçados, que atuam como agentes da Lei e da Ordem dentro desse princípio da dualidade divina. Entender Exu é entender o próprio funcionamento da Lei Maior.

Antes de qualquer coisa é preciso saber a diferença entre o Orixá Exu e o Exu catiço, da Umbanda. A palavra Exu, que significa “Esfera”, remete aos cultos africanos e ao Orixá de mesmo nome. Como bem sabemos, por diversos fatores históricos, houve no Brasil um processo chamado sincretismo, através do qual as divindades africanas foram associadas aos santos católicos. Assim, Iansã, por exemplo, que é a divindade dos raios e das tempestades, foi sincretizada com Santa Bárbara, já que essa santa também é associada aos raios e trovões. Ogum, o Orixá guerreiro, foi sincretizado com São Jorge, o patrono militar dos católicos, e assim por diante. No entanto, com o Orixá Exu houve, ainda dentro do sincretismo, um processo de demonização. Sendo Exu a divindade ligada à fertilidade, à sexulidade e à virilidade – inclusive carregando, em suas representações, um cetro em forma de falo – e tendo uma personalidade um tanto rebelde, como nos contam as itans (lendas africanas dos Orixás), não tardou para que fosse associado ao demônio bíblico/católico. Assim, desde o princípio, Exu foi temido, e provavelmente gostou disso, levando-se em conta seu caráter irreverente.
Apesar da confusão em torno da natureza de Exu, não podemos esquecer e nem desprezar sua importância dentro do panteão africano e de seu funcionamento, já que ele atua como “mensageiro” ou “intermediário” entre os homens e os Orixás.
Nos cultos de Umbanda também encontramos Exu, porém não na figura de um Orixá, e sim de um espírito catiço, um desencarnado, que viveu em Terra e procura, através do trabalho na espiritualidade, alcançar o progresso moral.
Também associado a figuras demoníacas, o Exu da Umbanda é um valoroso trabalhador, que indiferente a essas interpretações calcadas em visões preconceituosas, segue perseverante no cumprimento de sua tarefa.
O papel do Exu numa gira de Umbanda é de fundamental importância, realizando a segurança do terreiro – imaginem quantos kiumbas (espíritos trevosos e zombeteiros) atacariam uma tenda de Umbanda a fim de atrapalhar seus trabalhos, se não fosse a presença dos Exus, trancando a sua passagem. Em casos de descarregos, também são os Exus os principais agentes, pois cabe a eles a tarefa de encaminhar cada espírito, seja um pobre sofredor desorientado, ou um perigoso obsessor ao seu local de merecimento e/ou tratamento.
Exu também é o agente da justiça kármica, sendo sua tarefa levar a cada um o que lhe é de direito ou merecimento – por isso também a confusão em torno de seu caráter, já que ao coração humano é muito fácil aceitar o que é agradável, mas muito difícil entender que os revezes da vida muitas vezes são resultado de nossas próprias ações.
Ao contrário daquilo que falam sobre eles, os Exu são fiéis amigos, sempre dispostos a ajudar seus protegidos, mas também exigindo uma conduta deles, pois são extremamente rigorosos.
De uma forma bastante simplificada, podemos entender o Exu como uma mistura entre o carteiro e o gari, pois ele traz aquilo que deve ser entregue e varre aquilo que deve ser levado.

sábado, 4 de julho de 2009

CONVIVER PARA APROXIMAR



Para nos aproximar, precisamos conviver. Sem dúvida as reuniões para dialogar sobre tema doutrinários, as palestras para compartilhar experiências, os debates são indispensáveis.

Também é indispensável, expressar nosso pensamento, de maneira livre, ponderada, buscando mostrar aquilo que consideramos adequado para aquele momento e para aquele grupo com o qual convivemos. Conversando é que se entende.

Aproximar para unir, não unificar. União com respeito. Respeito a diversidade de rituais. Respeito ao entendimento de cada um. Uma comunidade onde possa haver convergência pelos elementos semelhantes.

A união com respeito, pressupõe que não haja necessidade de ninguém decretar o que é certo. Mesmo porque o que é certo? Existe “um certo” só? Se alguém se arvora do direito de estabelecer o que é certo, é preciso refletir, pois algo deve estar errado.

Tenho preferência por buscar aproximação através da convivência, ao participar dos rituais das casas que tenho tido a sorte de conhecer e onde tenho tido a felicidade de fazer amigos de fazer amigos. Ao participar de um ritual, minha sensibilidade se intensifica e meu coração se expande, tornando-me mais receptivo ao amor incondicional que emana de Aruanda.

Ritos de convergência! Que os Orixás nos ajudem para que se multipliquem. Que no seu contexto também aconteçam os “Ritos” de convivência, de compreensão, de respeito, de admiração, de aprendizado, de crescimento, de alegria, de amor fraterno.

É normal que, para conviver, sejam necessários alguns ajustes. Também é normal que, a escolha de cada um, estes ajustes existam somente durante a convivência.

Quando falamos em Rito, vem a nossa mente a nossa pratica habitual, os elementos que são usados na casa onde praticamos nossa Fé. Aquilo que aprendemos ser adequado e necessário à prática da “nossa” Umbanda.

Mas e os nosso irmãos de Fé de outros Agrupamentos e Instituições?

Será que estariam errados em acrescentar ou retirar elementos de seus rituais, em ações que são frutos do seu entendimento e sensibilidade, que podem se aproximar ou se distanciar do nosso?

Quando cada um de nós cede um pouquinho a sua pratica habitual, é mais provável que haja consenso.

Num Rito conjunto, o consenso pode ser não usar bebidas. Se costumamos usar a bebida nos rituais de nossas Casas, acredito que os Guias de Luz que nos assistem a substituam pela vibração da reunião, do local, e até mesmo possam usar água para isso. Ah! Mas é diferente, a bebida é usada como elo vibratório, repositor de energia, para descarregar. Creio que nossa boa vontade vai elevar nosso pensamento, nos colocar em sintonia com o mundo espiritual, que vai suprir a diferença quando necessário.

Num Rito comunitário, o consenso pode ser não usar cigarro ou charuto. Se costumarmos usar cigarro e charuto, nos rituais de nossas Casas, acredito que os Guias de Luz que nos assistem os substituirão pelas nossas ligações mentais com a natureza. Ah! Mas não é a mesma coisa, pois a fumaça é usada na limpeza do ambiente. Creio que a alegria da nossa união vai complementar a energia necessária para esse fim, e, além disso, poderá ser extraído da defumação (se houver), os elementos necessários.

E se a afirmação for insuficiente ou excessiva?
E se não houver Pemba e Ponto Riscado?
E se não houver a saudação ou a chamada a uma Linha?

E se não for puxado o Ponto de determinada Entidade?
E se não houver determinada imagem no Congá? E se não houver Congá?
E se não for firmada vela para Anjos da Guarda?

E se não for usada alfazema ou outra essência?
E se não houver doces para as Crianças?
E se o passe for coletivo, diferente do que estamos habituados?

E se não houver consulta?
E se esses elementos são indispensáveis?

E se nós não usamos Atabaques?
E se nós não usamos adeja?
E se nós não batemos palmas?

E se nós não batemos os pés?
E se a letra, a cadencia ou a melodia dos Pontos é outra?
E se nós não usamos Tronqueira?

E se nós nos abraçamos mais ou nos abraçamos menos?
E se nós batemos Cabeça no inicio e não no fim do ritual?
E se cantamos o Hino da Umbanda no inicio e não no fim do ritual?

E o cruzamento de energias?
E se tudo isso é diferente do que estamos acostumados?

Não há Umbanda sem isso!
Não é Umbanda com aquilo!

Mas então, em nome do respeito, da convergência, pode tudo?

Confesso que, até o momento, minha vivencia, entendimento e consciência não me permitem aceitar duas coisas:

1) não aceito a cobrança: pois pedi, de graça recebi o dom da Mediunidade e de graça acredito que devo servir de instrumento ao mundo espiritual e àqueles que se assistem.

2) não aceito o sacrifício de animais: pois aprendi que a Umbanda é uma celebração a vida. Há outras formas e elementos que podem suprir perfeitamente essa necessidade.

Mas então não precisa de nada?

Precisa de amor, de Fé, de humildade, de praticar a caridade, de respeito, de estudo, de paciência, de dedicação, de bom-senso.

Quais Elementos ritualísticos são indispensáveis em nossa opinião?

Creio que após um pequeno esforço, algumas concessões, nós conseguiremos. O amor e a compreensão serão maiores que qualquer diferença.

Após vermos que não é tão difícil, poderemos repetir isso outras vezes se agirmos com a mesma alegria e satisfação com as quais tivermos nossos pedidos atendidos. Trabalharemos para que, em outras oportunidades, novos Elementos ritualísticos possam ser adicionados e talvez alguns retirados.

Nada vai mudar em nossas Casas. O Rito conjunto só vai ser um pouquinho diferente. E diferente não precisa ser errado.

Que possamos aproveitar esses momentos e formar uma Corrente única, unida pela Fé, para que com alegria, agradeçamos aos Orixás da nossa Umbanda querida, pela oportunidade de estarmos juntos, de levarmos sua Bandeira de amor e paz e de cumprirmos nossa missões com carinho e dedicação e seriedade.

Que Zambi nos permita, muitas Reuniões de amor, de paz, de harmonia, de entendimento. Que nossos Grupos e Instituições possam se aproximar, formando Comunidades que resultarão num mundo cada vez melhor.

Meu Sarava fraterno a todos os amigos, as amigas, os irmãos e as irmãs de Fé. Que nossos laços de amizade se fortaleçam cada vez mais.

Salve Zambi!
Salve todos os Orixás!
Salve todas as Linhas!
Salve todos os Guias e Protetores!
Salve todas as Falanges e Falangeiros!
E salve a Umbanda!

Leni W. Saviscki
Sociedade Fraternal Cantinho da Luz
Erechim – RS