sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

As Sete Encruzilhadas - por Vander Augusto Pereira



As Sete Encruzilhadas
Inspirado mediunicamente ao médium Vander Augusto Pereira
Contatos: vander@primeassessoriaadm.com.br


Sou Senhor Exu das Sete Encruzilhadas. Senhor porque quero respeito, mas não por minhas posses, porque eu mesmo não tenho nada. Nem mesmo minha falange me pertence, se aquele acima de mim a quer terei que entregar, com brigas e protestos, mas entrego.

Fui homem há muito tempo, tempo que hoje ninguém lembra mais. Caí! Mas caí por meus erros. Não culpo ninguém, fiz minhas próprias escolhas e ninguém tem nada haver com isso. Erro meu e ponto!

Trabalho nas encruzilhadas, onde todos os caminhos se cruzam... Uns vem e vão, outros se unem o se separam, mas todo caminho se cruza com algum outro em algum tempo...

As pessoas que passam por sua vida são caminhos que apenas se cruzam, travam uma encruzilhada em formato de Cruz realmente, se cruzaram num ponto e seguiram...

Os caminhos que se acompanham cruzam por um Y, onde cada qual segui seu caminho, se juntaram e começaram a caminhar juntos. Esses são complicados, pois muitas vezes o espaço é pouco, a rua estreita...

Caminhos também se separam numa encruzilhada em Y, as pernas que um dia andaram juntas, seguem rumos separados após uma encruzilhada em Y...

Temos encruzilhadas em X, quase em Cruz, mas com uma diferença, são caminhos que vêm de longe, se aproximando até se encontrarem, mas distanciam da mesma forma, se cruzam em algum ponto, onde deveriam se cruzar e nada mais...

Na encruzilhada em T, você tem escolhas a fazer. Seguir seu caminho para qual lado? Direita ou esquerda? Dar meia-volta, pois em frente tem um muro e voltar em seu caminho, refazer seus passos para traz e tentar de novo ou arriscar o desconhecido para algum dos dois lados...

Em todos esses encontros estarei lá, com as chaves da encruzilhada em minhas mãos...

Não sou senhor dos caminhos, mas trabalho nos caminhos que se cruzam, onde se cruzam... Se hoje você está lendo isto é porque minhas poucas palavras deveriam se cruzar com você em uma das Sete Encruzilhadas em que trabalho...

Tenho por fim as duas ultimas encruzilhadas onde trabalho, das quais talvez tu não irá gostar. É onde abro o caminho por quem ou pelo que foi junto aos seus, trabalho na encruzilhada da vida com a morte, do bem com o mal, duas encruzilhadas que revelam a verdade e o caminho ao qual trilhar...

Quando a vida se cruza com a morte e algumas respostas aparecem, o bem e o mal de seu coração, de suas atitudes, se cruzarão pela ultima vez nesta passagem, Eu, Exu das Sete Encruzilhadas estarei lá para lhe receber na encruzilhada que mostrará quem você foi cruzando para o lado de quem você será. Trabalhe pelos seus, busque o caminho correto através das encruzilhadas da vida...

Saravá a todos!!!

Senhor Exu das Sete Encruzilhadas


Texto inspirado mediunicamente ao médium Vander Augusto Pereira

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Um pouco de Zé Pelintra - por Rodrigo Queiroz




































Linha e Arquétipo dos Malandros

Por Rodrigo Queiroz
Ditado por José Pelintra
 (este texto compõe o material de apoio para o curso on-ine "ARQUÉTIPOS DA UMBANDA", participe)

Seu Zé Pelintra onde é que o senhor mora...
Eu não posso te dizer, porque você não vai me compreender...
Eu nasci no Juremá, minha mora é bem pertinho de Oxalá!

Din din din, din din din, risca o ponto!
Malandro cruzado no meio do terreiro chegou,
chegou Zé Pelintra que veio do lado de lá,
fumando e bebendo gritando vamos saravá!

Saravá a todos do lado de cá!
Saravá Umbanda, o Catimbó, as Macumbas e o Candomblé!
Salve aqueles que são de salve e aqueles que não o são!

De tanto que somos marginalizados por aqueles que deveriam era nos prestar reverência ou mesmo o respeito por estarmos tão próximos para o que der e vier. Nós os “malandros” do astral fomos confundidos com os marginais do além.
Para quem ainda não entendeu, os Zés da Umbanda são espíritos comuns a cada um de vocês. Humanos por natureza, errantes, com defeitos e virtudes que na bondade do Criador podemos interagir com nossos companheiros encarnados afim de na troca de experiências agregar luz e evolução na história de cada um.
Zé Pelintras, Zé Navalha, Zé da Faca e tantos “zés” formam esta corrente ou linha de trabalho que chamamos de Linha dos Malandros. Justamente pela falta de informação fomos chegando na Umbanda de “fininho” na boa malandragem pra não incomodar ninguém. Quando “batíamos na porta” de um terreiro que nos desconhecia, se era da percepção do dirigente que devíamos manifestar na linha dos exus, assim fazíamos se pensavam que éramos baianos, tudo bem, ali estávamos. Entre acertos e erros, contradições e tradições fomos sendo aceitos, percebidos e procurados. No entanto engana-se aquele que pensa que surgimos do nada ou para nada, não, não. Já bem antes da Umbanda estávamos lá comandando o Catimbó, muitos ainda estão, diria que esta é nossa origem, mas como afirmar a origem daquele que não é original, pois é, somos o retrato da miscigenação racial e cultural que impera em todos os cantos deste Brasil, terra de Deus!
Somos aclamados como Doutor, curador, conselheiro, defensor das mulheres e dos pobres. Por outro lado também somos rechaçados e “exterminados” na consciência de alguns que insistem em nos colocar no patamar dos “demônios” e espíritos viciados e aloprados. Ora, este que nos maldiz é aquele mesmo que nada entendeu sobre Deus e seu amor na Sua Criação! Deixe que falem, desde que fale.
 O certo é que somos o retrato e a realidade da classe menos favorecida, somos a periferia, os menos favorecidos, os esquecidos, aqueles que se não é o jogo de cintura da criatividade humana, jamais persistiria vivendo, entende agora o que é nossa malandragem? Também digo que vivemos na periferia de Deus, claro, ainda temos muito que fazer para ir até o centro. E daí? Tá tudo certo camarada. Sabemos a que estamos e livre das ilusões que tanto aplaca a mente de vocês encarnados. Olha, sabe de uma coisa? É bom demais o lado de cá!
Dos Catimbós do Nordeste aos terreiros de Umbanda de todo Brasil! Isso é ascensão...
Por fim camarada, tenha em mente que estamos para ajudar a quem queira. Defendemos sim os mais pobres e sofredores, pois sabemos o que é a dor da fome e da perdição. Secaremos sempre as lágrimas daqueles que sofrem e isso basta.
Dentro do meu chapéu levo meu mistério, na fumaça de meu charuto transporto minha magia, na gargalha encanto meu povo, no meu terno branco reflito o que sou e na minha gravata vermelha quebro o mal olhado na força de Ogum!
Para aqueles que nos abrem alas, obrigado!

Nota do médium: Salve sua força camarada! Pois é leitor, a Linha dos Malandros, como posso dizer é bem nova neste formato organizado, no entanto de forma esparsa e independente estes companheiros já se manifestam na Umbanda há muito tempo e são anteriores ao surgimento da religião. Detendo grande importância nos Catimbós e Macumbas Cariocas. São “mandingueiros” do bem e manifestam um incrível senso de humor em suas manifestações. Chamam logo atenção de todos e arrebanham facilmente pessoas ao seu convívio.
Seu arquétipo é da classe social mais sofrida e menos abastada. Retratam mesmo aqueles que viveram no morro, na marginal, na periferia. São marginalizados, no entanto não são marginais.  Exemplo daquele que apesar do sofrimento e das dificuldades teve sabedoria para tirar humor da dor e driblar o baixo astral.
Defensores naturais das mulheres que sofrem com o aprisionamento machista parecem até galanteadores, mas nunca perdendo o bom senso do respeito. Estão afinados com a classe a qual formam seu arquétipo.
Mandingueiros, sabem muito bem como combater as Trevas e desmanchar feitiçarias e magias negra.
Não são baianos, não são nordestinos, não são rótulos, pois são o que são, um agrupamento de espíritos que tiveram a experiência de pobreza ou algo do tipo por todo esse país, que depois do desencarne e já conscientizados tiveram a oportunidade de retornarem nos cultos mediúnicos para continuar o progresso evolutivo.

Por Rodrigo Queiroz
Ditado por José Pelintra

sábado, 11 de agosto de 2012

Homenagem aos pais - por Douglas Fersan

Quando eu era pequeno e tinha pesadelos à noite, eu chamava por ele. Como um super-herói infalível ele aparecia para me acudir. Hoje me sinto um herói quando salvo meu filho dos sonhos ruins. Claro que não quero que ele tenha pesadelos, mas é com certo orgulho que vou ao seu socorro.

Eu ficava admirado com a sua habilidade em serrar a madeira, martelar os pregos, dar formas úteis a pedaços de madeira e pintar a parede, que de embolorada ganhava uma cor bonita. Hoje, com orgulho, vejo meu filho admirando meus trabalhos manuais e pequenos consertos domésticos, que nem saem tão perfeitos assim, mas que aos seus olhos pueris são grandes feitos.

Eu não entendia como ele conseguia trabalhar tantas horas seguidas e ainda fazer uns “extras” nos finais de semana. Às vezes até me revoltava. Como ele se atrevia a trabalhar tanto? Não percebia que a gente queria a companhia dele? Hoje eu trabalho muito, talvez menos do que deveria, para dar um pouco de conforto àquele pequeno que eu amo tanto. Espero que um dia ele compreenda minha ausência.

Havia momentos também em que eu tinha raiva. Por que a vontade dele tinha que imperar? Por que ele tinha que me pedir um copo de água bem no melhor momento do desenho animado? Hoje eu tenho sede e nem sempre percebo que às vezes abuso da minha autoridade. Que tirano eu sou.

Houve um momento eu que me revoltei profundamente. Por que não podia deixar o cabelo crescer, usar brinco, fazer tatuagem? Que droga, eu era jovem, por que um velho ranzinza queria me impedir de viver os melhores momentos da minha juventude? Hoje eu não entendo direito as ideias desses jovens e quero a todo custo proteger o meu menino daquelas coisas que eu não consigo entender. Acho que estou ficando velho e meus neurônios não conseguem compreender a lógica das novas atitudes. Podem me chamar de careta se quiserem.

Pior foi quando tive que crescer repentinamente e inverter os papéis. Por ironia do destino eu tive que carregá-lo no colo, dar banho, colocar remédio na boca. Por fim o deitei em seu último berço e o devolvi a Deus. O mesmo Deus que um dia me deu a ele. Tudo tem um propósito, acho que Deus me deu a ele e ele a mim porque sabia que um dia ele cuidaria de mim e noutro dia eu cuidaria dele. Será que um dia será preciso meu menino cuidar de mim, zelar pelo meu sono e me deitar em meu último berço?

Hoje eu entendo tanta coisa que eu não entendia e reclamava. Entendo a sua caretice, a sua implicância, a sua rabugice. Tudo isso era a forma que ele tinha de traduzir em ações o seu maior sentimento: o amor.

Hoje eu queria tanto tê-lo aqui para um abraço, ainda que breve. Mas compenso essa ausência abraçando meu filho, afinal nada acontece por acaso. Uns vão, outros vêm. Outros não podem ser abraçados, mas outros estão aqui a nos chamar nas horas do pesadelo, para a brincadeira chata (para a qual nem sempre temos paciência), para levar umas broncas, para pedir ajuda na lição de casa ou simplesmente para serem amados. É o ciclo da vida, infinito e infalível. Apaixonante...

Que todos os pais, presentes e ausentes, se sintam abraçados. Não faz mal que essa data seja apenas um comércio, como todos sabem. Ela serve também para que alguns sentimentos não caiam no esquecimento.

Um abraço especial aos meus dois pais, Sergio, que me gerou, salvou dos pesadelos e me criou, e Edmilson, que convivi por menos tempo que eu gostaria, mas que não foi apenas um sogro, isso qualquer um pode ser, foi o pai postiço que me abraçou quando o meu biológico já não vivia mais entre nós.

Douglas Fersan

11/08/2012

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

História de um preto velho - por Douglas Fersan


Tudo começou na pequena Paranapiacaba, uma vila pitoresca, com arquitetura e clima (leia-se neblina) que lembra as cidades inglesas do século XIX e destinada à moradia dos trabalhadores da Rede Ferroviária Federal. As casas – algumas mais simples (onde moravam os trabalhadores mais humildes), outras mais requintadas (que abrigavam os engenheiros da ferrovia, os verdadeiros mandatários da empresa) – eram de madeira, pintadas de um tom entre o vermelho e o marrom, enquanto as de alvenaria, mais simples, eram pintadas de cal com um pigmento amarelo. Parece que esses detalhes imprimiam um aspecto ainda mais melancólico ao local.

Mas a casa onde dona Lidia morava não se encaixava em nenhum desses quesitos. Era uma casa extremamente humilde, de madeira, já bem úmida e surrada pelo tempo, a última casa da Rua Antônio Olinto abrigava a boa senhora, o marido e o casal de filhos. Os fundos do quintal davam para a mata fechada, que era bela, mas trazia alguns problemas, tais como a invasão de animais indesejados (cobras, morcegos, sapos), além de causar uma sensação de insegurança bastante justificável – tipos suspeitos costumavam se esgueirar por aquele local, sabe-se lá com qual finalidade. Tudo isso deixava dona Lidia apreensiva, pois seu marido, seu Sergio, saía para trabalhar antes do amanhecer e só voltava ao cair da tarde. Isso a fazia sentir-se refém da situação, junto aos filhos, durante todo o dia.

Em uma triste ocasião, um vizinho maldoso tentou arrastar a filha do casal para o matagal, com as piores intenções. Só não conseguiu seu intento porque outros moradores perceberam o movimento e agiram a tempo.

A vila era pequena e existiam algumas casas, melhor localizadas, que estavam desocupadas. Dona Lidia sempre pedia ao marido que solicitasse junto à sua chefia uma outra moradia, mas ele sempre retornava dizendo que o pedido havia sido negado.

Numa atitude de desespero, sem que o marido soubesse, ela pegou os dois filhos e foi São Paulo, tentar conversar com o superintendente da RFFSA. Após horas de cansativa espera foi atendida. O engenheiro a recebeu bem, ouviu a sua história, mas cordialmente disse que não atenderia o seu pedido. Explicou que seu Sergio era um excelente profissional e dentro da empresa somente ele dominava a técnica de desenhar manualmente (naquela época era assim) as letras que identificavam os vagões. No entanto, por ser consciente disso, era um tanto abusado em seu comportamento. Desrespeitava a hierarquia da empresa, não cumpria corretamente seu horário de trabalho, brigava, discutia com os superiores, enfim, era bom no que fazia, mas não era merecedor de privilégios devido ao mau comportamento.

Dona Lidia foi embora arrasada, deprimida. Precisava sair daquela casa a qualquer custo. Sentia um nó na garganta, mas segurou o choro para não abalar as crianças. Resolveu então visitar uma cunhada que morava ali perto, a fim de desabafar um pouco.

Chegando lá, falou sobre sua angústia e a cunhada, percebendo que ela não estava bem, convidou-a a ir até uma vizinha que era benzedeira. Lá chegando foram prontamente atendidas e a senhora incorporou uma entidade que se identificou como o preto velho Pai João Benedito. O bom espírito deu um passe em dona Lidia e seus filhos e, depois de falar palavras de conforto, disse:

_A fia pode ficar sossegada, esse preto velho vai ajudar a fia a conseguir o que precisa.

Dona Lidia voltou para casa mais leve, já conformada em ter que viver naquela casa velha, úmida e sem segurança. Mas ao menos sentia que estava protegida espiritualmente.

Algum tempo se passou e a conversa com o preto velho já estava caindo no esquecimento, afinal, como um espírito de um escravo poderia interferir na mudança de uma casa? O negócio era viver a vida, seguindo em frente e aprender a conviver com os sapos (bicho que particularmente dona Lidia tinha verdadeira fobia), cobras e outros animais repugnantes, além do constante medo por estar à mercê de um invasor que viesse pelo matagal.

Uma noite, seu Sergio adormeceu assistindo à TV junto com a filha no sofá da sala. Dona Lidia cansada do trabalho diário, foi para a cama e colocou o filho mais novo na cama (a casa era tão pequena que todos dormiam no mesmo quarto). Quando estava quase adormecendo ouviu barulho vindo da janela do quarto. Seu medo foi tamanho, que ficou paralisada: não conseguia se mover ou gritar pelo marido. Seu medo aumentou quando lembrou que a cama em que o filho pequeno dormia ficava logo abaixo da janela.

Ainda paralisada e apavorada percebeu a janela se mexer e viu que lentamente alguém a levantava. Em poucos minutos o ladrão estaria dentro do quarto e, pior que isso, poderia fazer o pequeno menino de refém. Os poucos segundos pareceram uma eternidade. Quando enfim a janela estava aberta, um homem negro, de cabelos levemente grisalhos enfiou a cabeça pela janela e olhou diretamente nos olhos de dona Lidia. Foi nesse instante que ela saiu daquele torpor e conseguiu gritar por socorro. Seu marido acordou assustado e veio correndo. Nisso o negro soltou a janela, que desceu com violência, quebrando todos os vidros, e sumiu no mato.

A polícia foi chamada e vasculhou todo o matagal sem encontrar qualquer indício do invasor. A janela mostrava os sinais de arrombamento e, felizmente, os cacos de vidro não causaram sequer um arranhão no pequeno menino que fora atingido pelos estilhaços.

Se tratando de uma vila pequena, o caso se tornou conhecido de todos os moradores. Todos comentavam sobre a casa no matagal, que expunha seus moradores aos mais diversos riscos. Diante da situação, os mandatários da RFFSA ficaram preocupados, pois se algo mais grave acontecesse, especialmente às crianças, eles poderiam ser responsabilizados. Trataram então de ceder uma nova moradia à dona Lidia e sua família, num local mais tranquilo e seguro de Paranapiacaba. A casa velha e úmida foi demolida. Ninguém mais sofreria nela.

A mudança foi feita. Na nova casa dona Lidia iniciou uma nova vida, mais tranquila e feliz.

Algum tempo depois visitou a cunhada e novamente foi convidada a “tomar um passe” com aquela mesma benzedeira, que de novo incorporou a doce figura de Pai João Benedito. Após breve conversa, o velhinho perguntou a dona Lidia:

_A fia está feliz na casa nova?

Ela respondeu que sim e começou a relatar o ocorrido, quando tentaram invadir a casa, porém foi interrompida pelo preto velho, que disse:

_Não precisa contar, não fia... eu sei o que aconteceu. Quem levantou aquela janela não foi um ladrão e nem alguém que queria fazer mal para você e sua família. Fui eu que estive lá. Com a confusão que causei os homens que mandam acharam melhor dar uma casa nova para a fia morar.

Dona Lidia ficou sem palavras, então o preto velho continuou, dizendo que a acompanharia e sempre que precisasse, para chamar pelo seu nome. Pediu também que ela não esquecesse de colocar um cafezinho para ele todos os dias. Assim ela fez até o último dia de sua vida.

O filho de dona Lidia, depois de adulto, iniciou-se na Umbanda. Aos poucos foi desenvolvendo sua mediunidade e recebendo suas entidades. Quando o seu preto velho se manifestou pela primeira vez, perguntaram seu nome, ao que prontamente ele respondeu:

Sou Pai João Benedito, um nêgo veio que trabalha humildemente na Umbanda. Acompanho esse cavalo desde que ele era um cabritinho. A mãe dele foi sempre grata e fiel a mim, nunca se esquecendo de me oferecer um cafezinho num cantinho discreto da sua casa. Agora eu vim para dar continuidade ao meu trabalho de caridade através desse menino, que eu conheço tão bem e que tantas vezes já orientei e protegi sem que ele nem percebesse.

Assim é a Umbanda: usa de meios que num primeiro momento não entendemos, usa métodos que até duvidamos, mas que sempre objetivam o nosso bem. Assim são os pretos velhos: trabalham discretamente, de maneira sábia e humilde, sem pedir nada em troca, no máximo um cafezinho, que serve mais para reavivar nossa fé do que para qualquer outra coisa. Assim são esses sábio trabalhadores. Jamais nos abandonam ou nos deixam sem respostas.

Salve a corrente africana.

Salve os pretos velhos.

Salve Pai João Benedito.

Adorei as almas.

PS: essa é uma história verdadeira.

Douglas Fersan.

terça-feira, 24 de julho de 2012

VAMOS SAIR DA IGNORÂNCIA EM NOME DOS ORIXÁS - por Alexandre Cumino


VAMOS SAIR DA IGNORÂNCIA EM NOME DOS ORIXÁS - por Alexandre Cumino

De tempos em tempos, aparece algum caso de crime relacionado com Magia Negativa, associado ao mal, chamado vulgarmente de Magia Negra.

De tempos em tempos, vemos associarem alguns destes crimes à Umbanda, ao Candomblé ou aos Cultos Afros em geral.
São crimes bárbaros, macabros mesmo, com mortes de crianças e estupros, motivados pelo que há de pior e mais baixo no ser humano.

Enquanto nós ficamos aqui dizendo que isto não tem nada a ver com Umbanda, Candomblé e Cultos Afros; os criminosos, presos, se identificam com estas nossas amadas religiões e ainda dizem fazer pactos com satã, demônio, quando não colocam os nomes sagrados de nossos guias e orixás no meio de seus crimes hediondos e passionais.

SABEMOS que nossa religião é linda, que não faz pactos, que não existe demônios em nossos cultos.

Há anos, venho batendo na mesma tecla: Umbanda é Religião e só pode fazer única e exclusivamente o bem!

Enquanto isso, pessoas que nem tem idéia do que seja religião continuam abusando de nossos fundamentos e valores de forma negativa e invertida.

O conceito sobre religião está totalmente banalizado e distorcido, qualquer um cria uma nova religião e faz o que quer com ela, esta é a verdade.

Sempre lembro a primeira definição de Umbanda dada por seu fundador, o primeiro umbandista, Zélio de Moraes e sua entidade Caboclo das Sete Encruzilhadas: Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da caridade!

Enquanto isso, no próprio seio da Umbanda, convivemos com praticantes que não tem a menor idéia de quem foi, ou o fez, o primeiro umbandista.

Pessoas que "dirigem" terreiros, que se denominam sacerdotes (pai de santo, mãe de santo, padrinho, madrinha…) e proíbem seus médiuns de estudar.

O medo e a ignorância são portas abertas para as trevas interiores e exteriores.

É aqui que o EGO, a vaidade e os vícios mais baixos do ser humano se instalam.

E todos os dias vemos anúncios de pessoas oferecendo "serviços" de magias negativas em nome de nossos sagrados valores,
de nossa religião, de nossos guias e orixás. Deitam e rolam com os nomes de exu e pombagira, usam e abusam.

As pessoas continuam procurando um atalho, um caminho mais fácil, para externar seu negativismo acumulado, não querem dor, não querem crescer, não querem assumir seus atos, não querem ser conscientes, querem apenas satisfazer os sentidos viciados
no mundo das ilusões, das paixões que arrastam para atitudes emocionais animalizadas e instintivas.

Ainda se vê na figura do médium um poder de manipular vidas!
Um poder de manipular o destino, um poder que pode ser comprado, negociado.

NÃO EXISTE OUTRA SAIDA PARA A RELIGIÃO, É PRECISO MUDAR O SENSO COMUM, É PRECISO ALCANÇAR O INCONSCIENTE COLETIVO!

E A UNICA FORMA É COM EXEMPLO E NÃO APENAS COM PALAVRAS.

Um consulente pode apenas frequentar um terreiro, sem ter a mínima idéia do que seja a Umbanda.

Um consulente, um simples frequentador, pode se denominar católico, ateu, à toa e o que quiser…

Este consulente pode, sim, ele pode ser totalmente ignorante…

UM MÉDIUM NÃO PODE SER IGNORANTE!!!
UM MÉDIUM E PRATICANTE DE UMBANDA É FORMADOR DE OPINIÃO, SEMPRE!!!
O MÉDIUM É O TEMPLO DA RELIGIÃO!!! NÃO PODE SER O TEMPLO DA IGNORÂNCIA!!!

Umbanda não é e não pode ser para pessoas ignorantes.
E aqui fica bem claro o sentido e significado da palavra ignorante: aquele que ignora algo.

Não se pode praticar Umbanda de forma ignorante, sem saber o que está sendo praticado.

Quando não estamos bem, e todos passamos por momentos e períodos de negatividade, é o conhecimento, a razão, que nos mantém dentro de limites e parâmetros seguros. O médium ignorante torna-se uma porta aberta para as trevas.

E vamos continuar vendo casos e mais casos em que a ignorância rouba, assalta, o nome da umbanda e de nossas entidades.

COMO VAMOS MUDAR ISSO???
Ignorância se vence com conhecimento e estudo…