sábado, 11 de agosto de 2012

Homenagem aos pais - por Douglas Fersan

Quando eu era pequeno e tinha pesadelos à noite, eu chamava por ele. Como um super-herói infalível ele aparecia para me acudir. Hoje me sinto um herói quando salvo meu filho dos sonhos ruins. Claro que não quero que ele tenha pesadelos, mas é com certo orgulho que vou ao seu socorro.

Eu ficava admirado com a sua habilidade em serrar a madeira, martelar os pregos, dar formas úteis a pedaços de madeira e pintar a parede, que de embolorada ganhava uma cor bonita. Hoje, com orgulho, vejo meu filho admirando meus trabalhos manuais e pequenos consertos domésticos, que nem saem tão perfeitos assim, mas que aos seus olhos pueris são grandes feitos.

Eu não entendia como ele conseguia trabalhar tantas horas seguidas e ainda fazer uns “extras” nos finais de semana. Às vezes até me revoltava. Como ele se atrevia a trabalhar tanto? Não percebia que a gente queria a companhia dele? Hoje eu trabalho muito, talvez menos do que deveria, para dar um pouco de conforto àquele pequeno que eu amo tanto. Espero que um dia ele compreenda minha ausência.

Havia momentos também em que eu tinha raiva. Por que a vontade dele tinha que imperar? Por que ele tinha que me pedir um copo de água bem no melhor momento do desenho animado? Hoje eu tenho sede e nem sempre percebo que às vezes abuso da minha autoridade. Que tirano eu sou.

Houve um momento eu que me revoltei profundamente. Por que não podia deixar o cabelo crescer, usar brinco, fazer tatuagem? Que droga, eu era jovem, por que um velho ranzinza queria me impedir de viver os melhores momentos da minha juventude? Hoje eu não entendo direito as ideias desses jovens e quero a todo custo proteger o meu menino daquelas coisas que eu não consigo entender. Acho que estou ficando velho e meus neurônios não conseguem compreender a lógica das novas atitudes. Podem me chamar de careta se quiserem.

Pior foi quando tive que crescer repentinamente e inverter os papéis. Por ironia do destino eu tive que carregá-lo no colo, dar banho, colocar remédio na boca. Por fim o deitei em seu último berço e o devolvi a Deus. O mesmo Deus que um dia me deu a ele. Tudo tem um propósito, acho que Deus me deu a ele e ele a mim porque sabia que um dia ele cuidaria de mim e noutro dia eu cuidaria dele. Será que um dia será preciso meu menino cuidar de mim, zelar pelo meu sono e me deitar em meu último berço?

Hoje eu entendo tanta coisa que eu não entendia e reclamava. Entendo a sua caretice, a sua implicância, a sua rabugice. Tudo isso era a forma que ele tinha de traduzir em ações o seu maior sentimento: o amor.

Hoje eu queria tanto tê-lo aqui para um abraço, ainda que breve. Mas compenso essa ausência abraçando meu filho, afinal nada acontece por acaso. Uns vão, outros vêm. Outros não podem ser abraçados, mas outros estão aqui a nos chamar nas horas do pesadelo, para a brincadeira chata (para a qual nem sempre temos paciência), para levar umas broncas, para pedir ajuda na lição de casa ou simplesmente para serem amados. É o ciclo da vida, infinito e infalível. Apaixonante...

Que todos os pais, presentes e ausentes, se sintam abraçados. Não faz mal que essa data seja apenas um comércio, como todos sabem. Ela serve também para que alguns sentimentos não caiam no esquecimento.

Um abraço especial aos meus dois pais, Sergio, que me gerou, salvou dos pesadelos e me criou, e Edmilson, que convivi por menos tempo que eu gostaria, mas que não foi apenas um sogro, isso qualquer um pode ser, foi o pai postiço que me abraçou quando o meu biológico já não vivia mais entre nós.

Douglas Fersan

11/08/2012

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