sábado, 6 de fevereiro de 2010

A niveladora social - por Douglas Fersan



O orgulho é um dos maiores venenos para a alma e um grande obstáculo na estrada do crescimento moral e espiritual. Uma verdadeira armadilha pronta a laçar os incautos, quando permitem que seu ego lance sombra obscura sobre as lições éticas e morais que deveriam ser aprendidas por todo ser humano.
Viver em uma sociedade capitalista impõe vícios culturais que absorvemos sem perceber. O verbo “ter” adquire superdimenção sobre o verbo “ser”, pois o poder aquisitivo tornou-se fator primordial para que alguém conquiste o respeito a que todos deveria ser dispensado. As pessoas são julgadas pelo que têm, e não pelo que são. Viemos em uma sociedade extremamente materialista e amoral, na qual princípios básicos de convivência tantas vezes são ignorados em favor de postura orgulhosa e hipócrita, pois nem sempre aquela que sobe em um pedestal possui cacife para mantê-lo por muito tempo.
Estamos todos, porém, suscetíveis aos revezes da vida, pois a colheita implacável não nos dá opção: ela fatalmente chega sem perguntar se a desejamos ou não. Certa de que a plantamos, ela se impõe como algo que nos pertence.
É na tristeza que todos se igualam. É na doença, no infortúnio, na morte, no inesperado que nossos olhos morais finalmente se abrem para a dura realidade de que somos tão seres humanos quanto o vizinho ao lado. Em momentos de necessidade nos damos conta do quanto somos frágeis frente à vida – não que essa seja cruel, mas é justa como o oxé de Xangô.
Desesperados diante da dor, retornam à sua mísera condição humana e partem em busca de soluções. É quando, geralmente, batem à porta dos mais diversos templos religiosos.
Alguns desses templos atendem prontamente os infortunados, outros usam toda espécie de artifício para obter vantagens, pois sabem muito bem que pessoas fragilizadas são facilmente sugestionadas e induzidas à dependência psicológica de sacerdotes que não trabalham em benefício do seu semelhante, e sim de seus interesses escusos.
A Umbanda, nessas situações, funciona como uma grande niveladora social.
Desventurados de todos os tipos procuram os terreiros, onde são atendidos independente de sua condição social. Doutores, alfaiates, babás, engenheiros, professores, todos recebem o mesmo tratamento e todos, independente da conta bancária ou do diploma que ostentam embolorado em suas paredes, recebem o mesmo tratamento, porque para a Umbanda não importa o que as pessoas têm, e sim o que carregam no coração. A Umbanda fará por todos que baterem à sua porta, pois é a manifestação da caridade, e para ela não existem pobres ou ricos, doutores ou analfabetos. Doutores se curvam para ouvir os conselhos de um preto velho.
E ao final, quando os problemas estiverem resolvidos, muitos daqueles que antes estavam desesperados darão as costas aos terreiros e até evitarão falar que um dia pediram ajuda a um caboclo ou a um exu, mas em seu íntimo saberão que quando, novamente, seu calo apertar, as portas dos terreiros de Umbanda ainda estarão abertas a eles.

Douglas Fersan
Fevereiro de 2010.

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