sábado, 31 de dezembro de 2011

Mensagem do Templo de Umbanda Lar de Preto Velho para 2012 - por Douglas Fersan



Que em 2012:
O Pai Oxalá aumente e fortaleça nossa fé e que nós sejamos merecedores de falar em seu divino nome.
Que Ogum nos proteja de todo mal e nos dê forças para enfrentar as batalhas diárias.
Que Oxum nos traga a prosperidade e a harmonia tão necessárias para viver nesse mundo.
Que Oxóssi nos dê a ousadia e a bravura dos caboclos, a fim de vencer todos os obstáculos.
Que Iemanjá nos cubra com seu manto azul, dando-nos o conforto nos momentos necessários, como uma mãe caridosa que afaga seus filhos.
Que Iansã gire no tempo e afaste toda negatividade de nosso caminho.
Que Omolu/Obaluaê, Nanã e os pretos velhos nos brindem com sua sabedoria, para que tomemos sempre o rumo certo em 2012.
Que Xangô esteja sempre à nossa frente com seu machado, livrando-nos de toda e qualquer injustiça.
Que as crianças nos ensinem com sua pureza; que jamais deixemos morrer a criança que habita nosso espírito, para tenhamos a sabedoria pura dos pequenos a fim de crescer moralmente e levar a bandeira branca de Oxalá a todos os cantos do mundo.
E que os nossos caminhos estejam sempre abertos pela força e determinação dos compadres Exus e das guardiãs pombogiras.

Que assim seja.

Douglas Fersan - 31/12/2011
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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O CÉTICO E O LÚCIDO - por Roberley Meirelles

O CÉTICO E O LÚCIDO ...

A comparação entre a vida após a "morte" e a vida após o nascimento é simplesmente maravilhosa!

No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebês.
O primeiro pergunta ao outro:
- Você acredita na vida após o nascimento?
- Certamente.
Algo tem de haver após o nascimento.
Talvez estejamos aqui principalmente porque nós precisamos nos preparar para o que seremos mais tarde.
- Bobagem, não há vida após o nascimento.
Como verdadeiramente seria essa vida?
- Eu não sei exatamente, mas certamente haverá mais luz do que aqui. Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comeremos com a boca.
- Isso é um absurdo! Caminhar é impossível.
E comer com a boca?
É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta.
Eu digo somente uma coisa: A vida após o nascimento
Está excluída – o cordão umbilical é muito curto.
- Na verdade, certamente há algo.
Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui.
- Mas ninguém nunca voltou de lá, depois do nascimento.
O parto apenas encerra a vida.
E afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na escuridão.
- Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós.
- Mamãe?
Você acredita na mamãe?
E onde ela supostamente está?
- Onde?
Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos.
Sem ela tudo isso não existiria.
- Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma mamãe, por isso é claro que não existe nenhuma.
- Bem, mas às vezes quando estamos em silêncio, você pode ouvi-la cantando, ou sente como ela afaga nosso mundo.
Saiba, eu penso que só então a vida real nos espera e agora apenas estamos nos preparando para ela…
PENSE NISSO....

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Prefeitura de São Bernardo reabre estrada do Montanhão

Segue o link e a reportagem do Diário do Grande ABC sobre a reabertura da Estrada do Montanhão. Embora a reportagem não cite o fato, é de domínio público que por trás da medida arbitrária de Santo André encontra-se um ato de intolerância religiosa, já que a Estrada do Montanhão é o único acesso ao Santuário Nacional de Umbanda. Fechar a estrada é uma forma de impedir que os umbandistas pratiquem seus cultos de forma segura, respeitosa e livre.
Fica registrado o agradecimento ao prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, que não baixou a guarda e não permitiu que esse ato de intolerância e injustiça religiosa e social fosse perpetuado.

Douglas Fersan
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São Bernardo abre Estrada do Montanhão
Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC


Após oito dias fechado, trecho de 1,8 quilômetro da Estrada do Montanhão começou a ser reaberto na tarde de ontem pela Prefeitura de São Bernardo. A parte interditada está localizada no interior do Parque do Pedroso, em Santo André, e faz divisa com os bairros Baraldi e Selecta, em São Bernardo. Devido aos grandes obstáculos colocados, a via só será totalmente liberada hoje.
A Prefeitura de São Bernardo assumiu a responsabilidade pela desobstrução, já que Santo André ignorou liminar concedida pelo Tribunal de Justiça concedida na quinta-feira. O TJ determinou que o Semasa retirasse as barreiras da pista imediatamente. No entanto, a autarquia municipal alega que não foi notificada oficialmente sobre a decisão.
O secretário de Gestão Ambiental de São Bernardo, Giba Marson, explica que a Prefeitura solicitou no Fórum de Santo André permissão para cumprir a liminar. A autorização foi concedida no início da tarde pelo juiz Rodrigo Augusto de Oliveira.
O prefeito Luiz Marinho (PT) criticou a postura do município vizinho. "Santo André fugiu para não ser citado. Agora que conseguimos abrir, espero que o bom-senso prevaleça e o debate seja feito sem inspiração política." Para o petista, o fechamento da estrada fere o direito constitucional de ir e vir. Marinho volta hoje, às 10h, à Estrada do Montanhão para reabrir totalmente a pista.
Na opinião de Marson, o argumento utilizado para a interdição da pista, de que o trânsito local geraria danos ao meio ambiente, é contestável. "A preocupação ambiental nós também temos. Tanto é que vamos criar ecoponto no início da estrada. Mas para que isso dê certo, Santo André deveria fazer o mesmo do outro lado", avalia. O Semasa e a Prefeitura andreense foram procurados, mas não se manifestaram sobre o assunto até o fechamento desta edição.

HISTÓRICO
O processo que pede o fechamento da Estrada do Montanhão corre no Ministério Público desde 1992. A via passa por área de preservação a mananciais. A interdição prejudicou as cerca de 220 famílias que moram no bairro Baraldi. Para chegar ao Parque Selecta de ônibus, o tempo de trajeto aumentou cerca de duas horas e tinha de ser feito por Santo André por causa do bloqueio da pista.


Moradores fazem ‘churrasco da vitória'

A notícia de que a Estrada do Montanhão seria reaberta foi recebida com festa pelos moradores do bairro Baraldi, em São Bernardo. As 220 famílias que residem no local haviam ficado isoladas do município após o fechamento da via. Para comemorar a novidade, foi organizado o Churrasco da Vitória.
"A decisão foi totalmente inesperada. Agora vamos comemorar, pois esses últimos dias foram massacrantes", comenta Daniel Abrahão, presidente da Associação de Moradores do Baraldi.
Para a dona de casa Célia de Fátima Ramos, 48 anos, a reabertura foi recebida como um presente de Natal antecipado. "É uma bênção de Deus. Estamos muito felizes,pois a rotina aqui havia ficado muito difícil. Dava desânimo só de pensar em sair de casa."
Enquanto assava as carnes e uma carpa enrolada em folha de bananeira, o ourives Antônio Sérgio de Moraes, 51, relembrava do momento em que chegou para morar no bairro. "Eu morava no Ipiranga (Zona Sul da Capital) e resolvi vir para cá, pois sempre gostei do contato com a natureza." Ele conta que, após o fechamento da estrada, passou a demorar mais uma hora e 30 minutos para chegar ao trabalho, na Praça da Sé, na Capital.
O churrasco também atraiu motoristas da linha de ônibus 26-Baraldi. "Estamos comemorando com o pessoal do bairro. O fechamento atrapalhou a nossa rotina e a dos moradores, já que o trajeto ficou muito mais demorado", comenta Celso Aparecido do Nascimento, 40.

Fonte: http://www.dgabc.com.br/News/5933500/sao-bernardo-abreestrada-do-montanhao.aspx

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

TJ manda reabrir a Estrada do Montanhão - kaô Kabecile

A justiça dos homens pode até falhar, mas nada passa despercebido pela Justiça Divina. A estrada do Montanhão, que dá acesso ao Santuário Nacional de Umbanda e liga 220 famílias à área urbana foi reaberta por decisão da Justiça.
Segue matéria publicada no Diário do Grande ABC, de 23/12/2011.
Salve Xangô. Kaô Kabecile.
Douglas Fersan
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http://www.dgabc.com.br/News/5933361/tj-manda-reabrir-estrada-do-montanhao.aspx

A Estrada do Montanhão, na divisa entre São Bernardo e Santo André, interditada em parte há oito dias, será reaberta. O Tribunal de Justiça de São Paulo concedeu liminar, ontem à tarde, em pedido de habeas corpus do Ministério Público, e determinou a reabertura imediata da via. Pelo menos, até o fim do recesso do Judiciário - dia 6 de janeiro. Uma ação civil pública tramita, desde 1992, no Fórum andreense.
A decisão inicial da Justiça de Santo André que determinou o fechamento, no entanto, prejudicou cerca de 220 famílias do bairro Baraldi, em São Bernardo, que ficaram praticamente isoladas após o fechamento da estrada. A propósito: de acesso público. A via liga ao Jardim Selecta, no mesmo município, e corta parte do Parque do Pedroso, localizado em território andreense.
Na sentença do juiz desembargador de plantão no TJ, Eutálio Porto, a pretensão do MP é plausível. "Não se verifica, a priori, que a liberação do trânsito possa causar impacto ambiental com prejuízo irreparável ao parque".
Esse foi o motivo alegado pela Promotoria de Justiça de Meio Ambiente de Santo André, autora da ação civil pública. O parque está localizado em área de manancial. E que foi julgada procedente pela juíza de Direito da 1ª Vara da Fazenda Pública de Santo André ao determinar o recente fechamento da estrada.
Vale ressaltar, porém, que a interdição da via nunca foi pedida nos autos. E sim a fiscalização da área, com guaritas e cancelas. O que caberia à Prefeitura de Santo André, ré na ação, mas não feita até hoje.
Diante do impedimento do direito constitucional de ir e vir, entre outros fundamentos legais, os promotores Jairo Edward de Luca e Maximiliano Roberto Ernesto Führer interpuseram o habeas corpus para que fosse determinada a reabertura da Estrada do Montanhão com urgência. "... permitindo-se a passagem dos moradores e dos ônibus regulares até que os envolvidos na disputa judiciária implantem fiscalização eficiente ou construam outra rodovia... sem a imposição de qualquer espécie de ônus aos moradores do bairro Baraldi".
A notícia da abertura da via foi, inicialmente, festejada pelo prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), contrário à interdição. "Eu não posso mandar abrir. Se pudesse, faria, mas quem tem de fazer isso é quem fechou." Hoje, a administração enviará ofícios para os órgãos envolvidos, desde Justiça até Prefeitura de Santo André.
O Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André, responsável pela fiscalização da área, informou que não havia sido comunicado da decisão.

Pedido para fechar a via tramita na Justiça desde 1992

A reabertura da Estrada do Montanhão será mais um capítulo na conturbada história de interdição da via que corta São Bernardo e Santo André em área de proteção ambiental. O processo de fechamento tramita na Justiça desde 1992.
O trecho tem aproximadamente cinco quilômetros, entre o Jardim Silvina, em São Bernardo, e o Parque do Pedroso, em Santo André. O suposto impacto causado à natureza é o que motivou o Ministério Público de Santo André a pedir o fechamento da estrada.
A Prefeitura de São Bernardo argumenta que o bloqueio deixa sem saída as cerca de 220 famílias que moram no bairro Baraldi, além de dificultar o acesso ao Santuário Nacional de Umbanda.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Pela reabertura da estrada que leva ao Santuário Nacional de Umbanda - por Douglas Fersan

Parece impossível, mas não é.

Quando Pai Ronaldo Linares encampou o espaço que hoje constitui o Santuário Nacional de Umbanda, a área era uma pedreira, constantemente agredida pela atividade comercial. Ao instalar ali o Santuário, houve não apenas a preocupação de criar um local onde umbandistas e seguidores de cultos afro-descendentes pudessem realizar seus trabalhos sem serem incomodados e sem incomodar ninguém. Existiu também a preocupação com a questão ecológica, já que o Santuário hoje é uma reserva que abriga diversas espécies animais, tratadas com o devido respeito (para se ter uma ideia, o encerramento dos trabalhos ocorrem sempre antes das 16 horas, para que a movimentação não incomode o descanso dos pássaros que habitam o local), além das espécies vegetais, típicas da Mata Atlântica. Com respeito e dedicação a história do Santuário foi construída e mesmo seguidores de outras religiões reconhecem a importância e a inovação do lugar. A antiga pedreira deu lugar a uma reserva ecológica, bonita, que faz bem aos olhos, aos pulmões e à alma.

Mas parece que nem todos pensam assim. Parece que nem todos os religiosos de outros segmentos possuem a tolerância que tanto se prega. Já faz um bom tempo que tentam, através dos mais absurdos argumentos, colocar fim ao trabalho iniciado por Pai Ronaldo e que tanto beneficia a nós, filho de Umbanda. Várias tentativas foram feitas para fechar o Santuário, todas vãs. Restou uma alternativa: impedir o acesso dos umbandistas ao local.

Após um longo entrave judicial, a juíza Ana Xavier Goldman acatou a solicitação do promotor José Luiz Saikali, do Ministério Público do Meio Ambiente de Santo André e determinou que o acesso ao Santuário, pelo trecho andreense (mais curto e, portanto, menos agressivo ao meio-ambiente) fosse fechado.

Crendo na bom senso da Justiça, nas pessoas da juíza e do promotor, esperamos que a decisão seja reavaliada, não só pela comodidade dos umbandistas (que por sua fé continuarão seus trabalhos, mesmo tendo que enfrentar uma distância maior), mas também por entender que a movimentação pelo trecho andreense causa menos impacto à natureza e que o direito de ir e vir, garantido pela nossa Carta Magna, conquistada a duras penas, seja garantido.

Vamos repassar essa mensagem através das diversas redes sociais, além de emails, blogs e sites. Como umbandistas e cidadãos, cumpriremos a decisão da justiça, mas como tais, vamos questionar e debater até onde a lei nos permitir.

E que não percamos a fé, jamais. Que ela seja maior que a distância a ser percorrida. Que nosso pai Xangô permita que a justiça abra os caminhos para possamos louvar nossos orixás com tranquilidade e respeito.

Repasse essa mensagem ao maior número de pessoas que puder. A natureza e os orixás agradecem.

Douglas Fersan – dezembro de 2011.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Raiz e Fé: um estudo sobre a Umbanda (parte 2) - E surgiu a Umbanda (outra breve introdução) - por Douglas Fersan

Dando continuidade à publicação de uma série de textos que produzi com o objetivo de olhar a Umbanda sob um prisma histórico e sociológico, segue "E surgiu a Umbanda (outra breve introdução)". Esse texto foi publicado originalmente no jornal Região em Destaque, em janeiro de 2009. Como sua temática se encaixa perfeitamente no objetivo desse trabalho, resolvi republicá-lo aqui, com algumas pequenas adaptação.
Peço àqueles que quiserem utilizá-lo em sites ou blogs, que apenas preservem a fonte.

Douglas Fersan



Entender a Umbanda é entender o Brasil. Um país rico em variedades étnicas e culturais só pode ser resultado de uma intensa miscigenação ao longo de
seu processo de formação histórica e que ainda hoje mostra-se em
movimento. Diversos elementos contribuíram para a formação desse imenso
país e essa variedade de costumes que o caracteriza. Do seu elemento
étnico primordial – o indígena – pouco restou, levando-se em conta o
massacre de que foram vítimas. No entanto, herdamos vários de seus
costumes e crenças, dos quais podemos destacar diversos topônimos e o
uso de ervas para fins ritualísticos e medicinais.

O colonizador europeu não tardou a impor seus hábitos e crenças, assim, o catolicismo e toda sua liturgia foi introduzido no Brasil, passando a fazer parte da própria identidade nacional. Mais um elemento incorporava-se à massa humana e cultural que formava a nossa população.

Grande e inegável contribuição para esse processo foi dada pelos negros, que vieram cativos da África. Proibidos de realizar seus cultos, nos quais adoravam os Orixás, Inkisies e Voduns – divindades provenientes do panteão africano – trataram logo de encontrar um subterfúgio para garantir a sobrevivência de sua crença: associaram os Orixás aos santos católicos, assim podendo realizar seu culto sem a interferência violenta de seus patrões. Foi criado então, o sincretismo entre santos católicos e divindades africanas e, dessa maneira, os negros deixavam fincadas suas raízes de forma definitiva, na cultura brasileira – era mais um importante elemento que se agregava.

Mais tarde, já na segunda metgade do século XIX, em plena febre do positivismo europeu, surge na França, através do pedagogo Hippolyte León Denizard Rivail (que tornou-se conhecido com o codinome de Alan Kardec), a Doutrina Espírita ou Espiritismo, que tenta levar a comunicação com os espíritos à luz da ciência, além de definir padrões morais e filosóficos sobre questões como a morte, pecado, culpa e carma. Essa nova doutrina encontrou vários adeptos entre a classe média brasileira, e assim, o Espiritismo tornou-se mais popular no Brasil do que em seu país de origem.

A população brasileira, no entanto, assimilou todos esses elementos (e outros mais) e, salvo casos em quem o sectarismo não permitia, criou um verdadeiro emaranhado de todas essas crenças e, mesmo quem se declarava católico “praticante” não titubeava em procurar uma benzedeira ou em fazer uma simpatia. Ao contrário do que pode parecer, isso não significava a falta de uma identidade definica; era a própria identidade nacional que se definia. Dessa maneira, variados cultos proliferaram pelo Brasil afora – como o Catimbó, o Batuque, o Tambor de Mina e o Xangô (o culto, não o Orixá), sem falar nas macumbas cariocas, que embora alguns estudiosos afirmem que ainda não fossem designadas como Umbanda, já apresentavam todo o esboço de sua liturgia.

Embora o Espiritismo estivesse inserido na mentalidade da população brasileira, ele era praticado principalmente pela classe média – que tinha mais acesso às obras literárias dessa doutrina, e que carregava consigo seus conceitos e preconceito. Foi dentro desse contexto que o jovem Zélio Fernandino de Moraes, em 1908, contando com dezessete anos de idade, incorporou, em uma mesa espírita, o Caboclo das Sete Encruzilhadas (um espírito indígena, mas que segundo um médium vidente, assemelhava-se, pelas vestes, a um sacerdote católico) que, diante da reação dos presentes, que não aceitavam a manifestação de espíritos de índios e negros escravos, declarou que estava fundada ali a Umbanda, “uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados”. Para muitos esse fato é tido como a fundação da Umbanda, para outros ela já existia na prática há muito tempo, sendo essa passagem apenas mais uma manifestação de um caboclo, espírito tão comum em seus rituais. A verdade é que, sendo o Caboclo das Sete Encruzilhadas o fundador ou não, a Umbanda é o próprio retrato do Brasil, do processo histórico que o marcou tão profundamente, dos povos que o construíram, da identidade que assumiu para si. Assim como o povo brasileiro, a Umbanda é diversa, contendo em si elementos de diversas crenças que existem no país: a pajelança, o culto aos Orixás, o Catolicismo, o Espiritismo. Históricamente falando, a Umbanda é brasileira em sua essência, pois carrega consigo cada traço e cada cicatriz do povo que construiu o Brasil, suas crenças, seus hábitos e sua fé, mas também é universalista por excelência, pois agrega elementos de diversas partes do mundo. Do primeiro contato entre os diferentes povos e sua diversidade surgiu a Umbanda, ainda hoje presente de maneira discreta – às vezes nem tanto – em todas as regiões do país.

Douglas Fersan

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Umbanda é religião, portanto tem história - por Alexandre Cumino



Umbanda é religião, portanto tem História !

História se faz com fatos, nem com mitos e muito menos com "achologia".

A Umbanda nasce para o plano material no momento em que é organizado seu ritual e criado o primeiro templo, terreiro ou se preferir Tenda de Umbanda...

A umbanda não nasce da incorporação de caboclo e preto velho... pois isso existia e sempre existiu pois todos somos e sempre fomos médiuns... desde que o mundo é mundo o homem incorpora e se comunica com os espíritos...

Logo a Religião de Umbanda nasce com o primeiro templo fundado por
Zélio Fernandino de Moraes... que anuncia incorporado do Caboclo das Sete Encruzilhadas a nova religião... no dia 15 de Novembro de 1908...

E com estas palavras define:

Umbanda é a manifestação do espirito para a pratica da caridade

e complementa:

Com quem sabe mais vamos aprender e a quem sabe menos vamos ensinar...
a ninguém vamos virar as costas...

Seu Templo se chama Tenda Espirita Nossa Senhora da Piedade...

Existe até hoje e tem sua Neta Lygia Cunha como atual dirigente, em Boca do Mato, Cachoeiras de Macacu - RJ

Isto é historia, agora quem quiser crer em fantasias e outros contos baseados em imaginação e desconhecimento destes fatos que fique a vontade...

Os que creem que Umbanda já existia porque caboclo e pretovelho já incorporavam... então devem crer que catimbo, jurema, pajelança, candomblé de caboclo, cabula, encantaria e outros cultos mediúnicos com caboclo e pretovelho sejam a mesma coisa que Umbanda...

Parecido não é Igual... Umbanda é Unica, com uma diversidade muito menor do que parece ter... É a religião do Caboclo e do Pretovelho falada em língua portuguesa e ritualizada em torno do atendimento caritativo... estruturada em templo que separa consulencia de corpo mediúnico...

São peculiaridades e nuances como estas que definem a unidade da Umbanda em meio ao que se chama de diversidade... quem nem é tão diversa assim, mas que reflete algo comum em religião. São muitos budismos, cristianismo, islamismos, judaísmos... e muitas Umbandas como expressões de uma unica Umbanda...

Parabéns Umbanda

Alexandre Cumino

sábado, 12 de novembro de 2011

As esquisitices do religioso brasileiro - por Jairo Pereira Jr



Todos acreditam serem donos da verdade. Talvez essa afirmação seja a única verdade que todos concordaram. O título desse artigo meu irmão é que todos aqueles que usam a religião como escudo e arma de ataque caem nessa máxima.
Esquisito acreditarem que as suas verdades são absolutas. Alguns decoram trechos da bíblia para justificar tais verdades e as impor, sem respeitar a ninguém, nem a liberdade de discordar das pessoas.
Mas você que está lendo este artigo deve pensar: “O que há de esquisito nisso? Afinal desde que o mundo é mundo existe uma imposição de verdades de alguns.” O fato é que hoje somos livres para pensar e questionar, e o fato de ser umbandista, pratico uma religião que permite meu livre pensamento. Assim, responderei citando alguns dos absurdos que tenho visto, lido e presenciado nos últimos dias e que agora me fez desabafar.
Com a proliferação das igrejas evangélicas neopentecostais muitos jargões surgiram e são exibidos nos automóveis: “Deus é Fiel”, “Dirigido por mim, mas guiado por Deus”, “Presente de Deus”, “Família de Jesus” entre outros tantos.
Apesar de discordar e me incomodar pela forma equivocada que as frases que fazem apologia a esta ou aquela fé são colocadas, pois, apesar de não ser professor da língua portuguesa, acredito que a maioria tem um erro grave de colocação, pois Deus não tem que ser fiel e sim você tem que ser fiel a Deus, ou ainda se Deus te deu um carro porque você tem que pagar o financiamento?
Parece bobeira ou para alguns uma heresia, mas são coisas que me incomodam muito as pessoas falarem besteira e ninguém questionar. Meu pai sempre disse que é melhor ficar quieto e todos pensarem que você é um idiota do que você abrir a boca e todos terem certeza.
Mas as piores ainda estão por vir. Dias atrás enquanto dirigia pela cidade de Santo André, aqui no ABC paulista, o carro que estava a minha frente exigia a mensagem: “Deus odeia os injustos”.
Fiquei indignado. Como assim Deus odeia? Como Deus pode ser dotado de sentimento tão humano e mesquinho? Afinal, se essas próprias pessoas pregam que Deus é amor, como pode Ele odiar? Ou a mensagem de que Deus é Amor seja só marketing religioso?
E para piorar, o carro que levava tal frase, ao pararmos no semáforo, em fila indiana, em que tinha quatro ou cinco carros a nossa frente, cortou pela esquerda e passou no farol vermelho. Essa injustiça com todos os que esperavam em fila pacientemente o farol abrir, será que foi odiada por Deus?
Os outros relatos que quero compartilhar são os absurdos que presenciei na escola estadual que trabalho.
A professora de Educação Física tentou trabalhar uma das instruções propostas pela Secretaria da Educação e recebeu uma carta de um pastor de uma determinada igreja dizendo que o aluno Fulano de Tal estava proibido de fazer ou praticar aquele conteúdo da matéria e ainda desaconselhava que a professora não levasse em frente o conteúdo, pois aquilo desagradaria a Deus e que o conteúdo proposto pela professora era coisa do espiritismo, logo, coisa do demônio. O conteúdo proposto pela professora: A Capoeira.
No fim de Outubro, a professora de Inglês além de tentar ensinar algo do idioma, tentava ensinar algo da cultura americana e inglesa quando recebeu o recado de uma mãe com uma citação do livro de Deuteronômio que diz: “Que não tenha entre vocês... nem bruxo... nem mágico... porque todos os que fazem essas coisas são maus para o Senhor...” e a mãe ainda lançou um post numa rede social com os seguintes dizeres: “Diga não ao dia das bruxas (Halloween). Se não agrada a Deus... Tô Fora!!!”
Tais fatos chamaram minha atenção por, a meu ver, ser fruto das esquisitices daquele que se diz religioso, pois esses, na maioria das vezes são preconceituosos, irresponsáveis e desrespeitam a tudo e a todos por se acharem donos da verdade em nome de sua fé cega e irracional.

Abraços fraternais

Jairo Pereira Jr. - 2011
Umbandista
Professor de Economia e Matemática
38 anos, casado, 3 filhos

sábado, 5 de novembro de 2011

Raíz e Fé - um estudo sobre a Umbanda (parte 1) - por Douglas Fersan

Transcrevo a seguir, a primeira parte de uma série de textos que produzi a partir de estudos e reflexões sob o prisma sociológico/histórico sobre a Umbanda e crenças populares. Ao conjunto desses textos dei o nome de Raiz e fé, cuja única pretensão é instigar o debate acerca da Umbanda e ritos similares, bem como tirar alguns estigmas próprios do senso comum. Pretendo publicar gradualmente esses textos. Àqueles que pretendem reproduzi-los em outros blogs e sites, peço apenas que citem a fonte.

Douglas Fersan.




Introdução

Inúmeras vezes me encontrei enredado em debates sobre a literatura umbandista e quase sempre encontrei opiniões extremamente sectárias (e negativas) sobre o tema. Apropriando-se de argumentos baseados em um tradicionalismo quase ortodoxo, os opositores desse segmento literário defendem a idéia de que a Umbanda só pode – ou só deve – ser aprendida dentro dos terreiros, “aos pés das entidades”.

Obviamente que estão cobertos de razão quando fazem tal afirmação, pois os chamados fundamentos da religião, bem como os rituais magísticos nela praticados, são de interesse e responsabilidade dos envolvidos em tais procedimentos e seria uma verdadeira leviandade torná-los públicos ao leigo, como quem prescreve receitas culinárias. Diz um antigo ditado que a Umbanda é séria para gente séria, e é com a devida seriedade que devemos abordar o assunto, principalmente ao transformá-lo em domínio público.

Apesar de concordar com a postura acima citada, uma certa inquietação sempre se fez presente quando me via envolvido nessa questão. Como sociólogo, pedagogo e historiador me questionava quanto aos limites da literatura sobre a Umbanda e outros ritos praticados no Brasil. Nunca consegui enxergar os livros como detratores dessa crença. O que me parecia muito óbvio era a existência de uma nítida diferença entre autores que se aproveitavam do desconhecimento do leigo e da euforia do neófito para publicar e vender livros que ensinam supostos “feitiços” a fim de enriquecer, vingar-se dos desafetos e conseguir sorte no amor e de autores que visavam preservar a memória dos cultos afro-ameríndios aqui praticados. Não se pode confundir escritores (e suas obras) como Alexandre Cumino (A História da Umbanda – um verdadeiro marco no resgate de nosso passado ritualístico) ou Diamantino Fernandes Trindade com aqueles que publicam livretos que ensinam os desavisados (e despreparados) como fazer sua macumba em casa. Misturar essas duas formas de ver e escrever a Umbanda é, no mínimo, ingenuidade, para não dizer irresponsabilidade. É preciso compreender os diferentes níveis de pensamento, nesse caso tão gritantes.

Talvez seja justamente a mistura de minha formação religiosa (Umbanda) com minha formação acadêmica (Sociologia, Pedagogia e História) que me causa a inquietação já descrita. Certa vez, numa entrevista online, fui questionado sobre minha postura enquanto religioso e sociólogo, como se não fosse possível tal coexistência. Longe de caracterizar uma contradição, acredito que isso constitui uma característica peculiar, pois o olhar científico me faz crítico perante a religião, não aceitando qualquer dogma ou senso comum como verdade absoluta, ao mesmo tempo em que me livra de um ceticismo desnecessário frente aos fenômenos espirituais. E, provavelmente, essa é a causa da minha inquietação quando se fala em livros.

Antes de queimá-los em praça pública, devemos saber qual seu objetivo. O que seria da memória nacional se não existissem os registros?
Aos defensores da perpetuação da tradição através da oralidade, é bom lembrar que as informações deturpam-se com o tempo e com as diferentes interpretações. Estudar nossa memória é mantê-la viva, é manter o respeito aos cultos que ajudam a formar a complexa identidade nacional.

É dentro dessa linha de raciocínio que muito pretensiosamente me dispus a escrever essa “obra” (entre aspas mesmo). Encarei a difícil tarefa de analisar alguns pontos da religião que professo, através do prisma histórico e sociológico, praticando o olhar de estranhamento, crítico e isento, colocando de lado qualquer paixão ou opinião pessoal e, principalmente o senso comum. Pretendo expor alguns aspectos interessantes da Umbanda e das tradições espiritualistas brasileiras como forma de contribuir, ainda que minimamente, para o seu entendimento, sem qualquer tentativa de doutrinar ou impor minhas verdades pessoas.

O objetivo é tratar a Umbanda como coisa séria.


Douglas Fersan

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Finados - fim de quê? - por Douglas Fersan



Algumas datas e situações são tratadas como sagradas. Uma aparente aura imaculada, na verdade um tabu, parece pairar sobre determinados assuntos, cuja contestação parece ofender as mais profundas tradições.

É óbvio que tenho muito respeito pela dor alheia, assim como respeito também a forma como ela se manifesta em datas como o dia de finados. Mas não consigo me comover com essa data.

Talvez alguém se espante com o fato de um umbandista dizer que não se abala com o dia de finados. Mas entendo o termo “finado” como algo que se esgotou, que chegou ao fim, que não existe mais. E a existência daqueles que amei e continuo amando não chegou ao fim, pelo menos não acredito nisso. E o fato de ser umbandista só reafirma essa minha convicção.

Tive uma ligação muito forte com meus pais, mas nem por isso me abalo no dia dos pais ou das mães. Além de saber que são datas criadas com fins comerciais, tenho meus pais em grande estima todos os dias, mesmo eles já tendo feito sua passagem há tantos anos. A saudade que sinto deles é a mesma, independente da data.

Mas o dia de finados constitui algo diferente, ao mesmo tempo mórbido e especial. Longe de querer criticar quem se comove e se mobiliza nesse dia (afinal cada um tem sua forma individual de manifestar os sentimentos), mas não consigo me inserir nessa peregrinação aos cemitérios a fim de manifestar a saudade e o respeito àqueles que partiram para o plano espiritual. Como umbandista não vejo a morte como um fim, e sim como uma etapa inevitável e talvez sucessiva, dependendo do progresso moral de cada um. Vejo o ser humano, a mais complexa criação divina, como algo muito além da matéria – pensamento e espírito são, na minha concepção, coisas que transcendem o fim da carne, que sobrevivem a qualquer revés e, mesmo que não atingindo os graus mais elevados da chamada evolução, continuam a existir. Sendo assim, o que me levaria a peregrinar a um cemitério a fim de cultuar a única parte que acredito não ser eterna no ser humano? Não me faz sentido.

Prefiro tratar bem, com respeito e amor, aqueles que me são caros ainda em vida, do que levar-lhes flores em datas pré-estabelecidas após sua morte. Não quero reverenciar e amar uma lápide, prefiro dedicar meu tempo e meus sentimentos àqueles que amo enquanto ainda posso vê-los e tocá-los. Após partirem, vou continuar a amá-los, mas demonstrarei isso através das minhas preces e dos meus pensamentos, que serão diários e feitos em qualquer lugar, não necessariamente num cemitério. Aqueles que amo não findam, não acabam, nunca serão finados, pois tenho convicção na continuidade de sua existência, ainda que ela não seja tangível para mim.

A Umbanda me dá a fé e a força para seguir adiante, na luta cotidiana, mesmo sem a força dos entes queridos que me davam sustentação. E essa força recebo todos os dias, através da fé, dos orixás, das entidades e, quem sabe, até mesmo desses entes queridos, que quiçá já tenham atingido a luz necessária para me levantar quando preciso. E essa força eu encontro no elo que ainda me liga a eles, independente do dia ou do lugar. Encontro essa força porque a Umbanda me dá a certeza de que não existem finados. Existe a força infinita do amor, que mantém sempre unidas as pessoas que se amam verdadeiramente.

Salve todos nossos ancestrais, vivos em nossas tradições e corações.
Salve o amor infinito que une o mundo espiritual e o material.
Saravá a Umbanda.

Douglas Fersan
02/11/2011

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Amo a Umbanda, nem sempre concordo com os umbandistas - por Douglas Fersan




Amo a Umbanda, mas às vezes, imperfeito que sou, me surpreendo com certeza mágoa dos umbandistas. Antes que venham as pedras, eu explico: em primeiro lugar minha frase é mais do que generalizada (o que já constitui um erro), mas ela tem suas razões de ser.

Ser umbandista não é fácil – todos aqueles que levam a Umbanda a sério sabem disso, mas será que é a Umbanda que dificulta a nossa caminhada?

Certamente que não. Ao contrário disso, a Umbanda existe, entre outros fatores, para facilitar nossa caminhada e amenizar a os ferimentos que os espinhos da vida nos causam. A Umbanda é perfeita, quanto a isso não resta dúvida, nós umbandistas – e antes disso, seres humanos – é que não somos perfeitos e, não raras vezes, deixamos que a nossa imperfeição interfira no bom andamento dos trabalhos e rituais de Umbanda, maculando o seu nome e possibilitando a generalização negativa aos olhos do leigo.

Quantos umbandistas, durante a gira, não se concentram em seus afazeres, às vezes nem conseguindo se concentrar para “dar a cabeça” às entidades, porque se concentram mais na atitude dos seus irmãos-de-fé?
Quantos outros se orgulham em dizer que do lugar que ocupam no terreiro percebem tudo o que acontece durante a gira (e usam as observações para levantar críticas depois)? Deveriam observar melhor as próprias línguas, mantendo-as caladas e dentro de suas bocas, impedindo que saiam bifurcadas, espalhando sua peçonha por onde passam.

Existem também aqueles que adoram criticar as atitudes dos novatos, acusando-os de mistificação e querer colocar o carro na frente dos bois. Que isso acontece é fato, mas os mais experientes deviam ter o dever de ser sábios e, portanto, a obrigação de orientar os mais novos. Os inexperientes erram por desconhecimento e falta de orientação, os mais velhos erram por não conseguir conter sua maledicência.

Não faltam também aqueles que, durante uma gira, acham que são os seres mais importantes da face da terra, por desempenharem algumas funções. O sacerdote muitas vezes se acha a própria encarnação de Zambi, o ogã acredita que a gira não funciona sem ele, o pai pequeno olha os demais como se estivesse sobre um pedestal e assim vai. Cada qual se acha a peça-chave da gira e esquece que ela constitui uma corrente, na qual cada elo é de extrema importância e que se um fraquejar, todo o corpo mediúnico estará comprometido.

Não podemos esquecer aqueles que vestem o branco e são umbandistas apenas nas horas que dura a gira. Terminados os trabalhos, trocam a roupa e voltam à sua vida mundana, pouco se importando em melhorar enquanto filhos de Zambi. Tudo que aconteceu durante a gira não lhes serviu em nada como aprendizado. Triste o ser que vivencia uma experiência, qualquer que seja, e não tira dela uma lição.

E quando um filho-de-fé decide seguir outro caminho, ir para outro terreiro ou mesmo afastar-se da religião por algum tempo? Não são raros os sacerdotes de Umbanda que correm praguejar contra esse filho, inclusive tomando à frente de suas entidades para bradar em tom ameaçador (a fim de intimidar os demais filhos) que o “fulano voltará para cá se arrastando, pedindo perdão por ter saído”. É triste ouvir essas palavras proferidas por alguém que se diz “pai” ou “mãe” do terreiro, justamente a pessoa que deveria abençoar o filho que partiu e lhe desejar boa sorte, deixando as portas abertas para que um dia voltem, caso seja seu desejo. Mas preferem praguejar, demandar, ameaçar e intimidar. Será que pessoas que agem assim estão realmente preparadas para exercer o sacerdócio?

Mas com certeza os dois grandes males da maioria dos terreiros são a fofoca e a vaidade. Ervas daninhas que enquanto não são arrancadas de vez, pela raiz, não deixam os trabalhos fluírem da maneira como deveriam. Como auxiliar os necessitados quando somos nós os maiores necessitados no que se refere à moral e ética religiosa.

Teria inesgotáveis exemplos de quanto os umbandistas podem nos decepcionar, mas levaria horas escrevendo e esse texto se tornaria cansativo e repetitivo. Com certeza já decepcionei muito também, mas não podemos deixar de alimentar a chama da evolução. Erramos sim, e já diz o velho ditado que errar é humano, mas é preciso aprender com o erro e a partir dele buscar o aprimoramento. Mas infelizmente não é isso que vemos acontecer. Obviamente sou contra qualquer tentativa de unificar uma codificação de Umbanda, pois sua diversidade é sua grande riqueza, mas estabelecer uma conduta ética, não apenas como umbandista, mas como seres humanos, não custa nada a ninguém. E não podemos esquecer que somos o espelho da nossa religião, nossas atitudes são apontadas como positivas ou negativas pelos leigos para enaltecer ou denegrir a imagem da Umbanda.

Amo a Umbanda, nem sempre concordo com os umbandistas. Assim como toda a humanidade ainda precisamos evoluir muito.

Douglas Fersan
Outubro de 2011

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Oxum, amada mãe de meus amores - por Alexandre Cumino



Hoje 12 de Outubro de 2011, acabo de fazer minhas rezas a Oxum e em improviso lhe escrevo estas palavras abaixo, em devoção...

Mãe de Todos os Meus Amores, me coloco a seus pés, toco o chão com minha testa, para, em atitude de reverência e devoção agradecer e pedir sempre sua proteção. Clamo por sua guarda e sua guia em minha vida, e peço que sua estrela possa brilhar em meu Céu, para que quando vier a noite eu possa ter sempre sua luz a me iluminar o caminho.

Me Permita Exercer o Sacerdócio de Seus Valores, Ser Amante de Sua Verdade e Místico de Sua Presença.

Clamo em Invocação sua manifestação de dentro para fora do meu, pedindo e desejando um encontro com o Sagrado de Todas as Culturas que habita no EU mais profundo no qual todos são apenas UM.

Leva seus filhos minha Amada Mãe, Enleva toda esta BANDA, Com Seus Cantos de Encantos, Amores e Solicitude ajude-nos, todos, a subir mais um degrau, em direção ao UM.

Permita minha mãe que todos que me são queridos sejam tocados por uma centelha deste infinito amor.

Seja presente em minha alma e espírito para que quando meus sentimentos, palavras e ações ganharem vida sejam sempre a sua vida manifesta na minha, proporcionando vida em abundância.

Por meio de meus olhos, boca e ouvidos, a senhora possa estabelecer um contato com este mundo tão carente de sua presença, que meus pés toquem sempre em solo sagrado e minhas mãos demonstrem gestos de amor e gratidão, reconhecendo sua presença divina em tudo que Deus Criou...

Para Minha Família Seja também a prosperidade, e, que todos reconheçam que sua presença é que nos torna prósperos e realizados...

Oxalá Nos Ilumine Para Ser e Viver Por Sua Luz e Verdade... 12 de Outubro de 2011.

Alexandre Cumino

P.S.: Dedico estas linhas, em Oração, ao meu filho, sangue de meu sangue, carne de minha carne, e peço a Amada Mãe de Meus Amores que seja Shakti (Energia, Força e Poder das Divindades femininas) na vida dele, o encaminhando, abençoando e guiando por onde for seu corpo, mente e/ou espírito.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Contra a demolição da casa de Zélio de Moraes - por Douglas Fersan




Um país que não preserva sua memória não constrói seu futuro.

No dia 02 de outubro de 2011 um fato lamentável se tornou notícia. A prefeitura de São Gonçalo, no estado do Rio de Janeiro, permitiu a demolição da casa onde teria sido fundada a Umbanda.

É fato que a Umbanda não possui uma codificação ou um líder único e que, em virtude disso, muitos umbandistas não reconhecem a manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas através do médium Zélio Fernandino de Moraes como marco inicial da religião. Para muitos, os rituais aos quais hoje chamamos de Umbanda já existiam antes dessa manifestação, dada em 15 de novembro de 1908, no local referido, mas independente de se aceitar ou não, esse evento representa um marco histórico para nossa religião. Mesmo já existindo esses rituais, o dia 15 de novembro pode ser lembrado como um marco para a prática espiritualista, antes elitizada e, a partir de então, alcançando as massas, independente da condição social ou acadêmica.

A história já é conhecida – e quase lendária: após esgotadas as tentativas de curar os “distúrbios” (tais como falar de maneira arrastada, com sotaques diferentes e aparentes mudanças de personalidade) apresentados pelo jovem Zélio, então com 17 anos, seus pais resolvem levá-lo a um Centro Espírita, como último recurso em busca da solução do problema. Durante os trabalhos, Zélio incorpora um espírito que se apresenta como o Caboclo das Sete Encruzilhadas e anuncia a organização de uma nova religião que, diferente do Espiritismo da época, não estaria restrita às elites e abriria espaço para espíritos das mais diferentes origens trabalharem na prática da caridade e em busca de seu progresso espiritual. Essa mesma entidade manifestou-se no dia seguinte, na casa situada na rua Floriano Peixoto, nº 30, no município de São Gonçalo, onde declarou (que a Umbanda): “Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.”

Para muitos, esse acontecimento representa a própria fundação da Umbanda.

E é justamente essa pequena casa, de construção humilde, que está sendo demolida, em detrimento da história que ela representa. Independente da vertente umbandista que se segue ou de se aceitar a história de Zélio de Moraes, todos perdemos com esse ato, pois o povo que não preserva sua memória não investe em seu futuro, não valoriza a sua identidade, sua cultura e deixa se perder no tempo o passado de lutas e vitórias tão arduamente conquistadas. Fala-se tanto em tolerância religiosa, mas não se faz o mínimo para respeitar o marco de uma religião genuinamente brasileira. Fala-se em memória nacional, mas não se faz o menor esforço para manter vivo o patrimônio de uma religião que se confunde com a própria identidade brasileira.

Até mesmo fiéis de outras religiões, numa atitude respeitosa e inteligente, lamentaram o fato, como o Reverendo Marcos Amaral, da Igreja Presbiteriana de Jacarepaguá, que lamentou o fato da Prefeitura de São Gonçalo ser a primeira a dar exemplo de indiferença à religião umbandista, conforme declarado no Jornal Extra, em 05/10/2011.

Militantes umbandistas da região estão marcando uma manifestação para o dia 07/10/2011, às nove horas da manhã, em frente à casa, a fim de protestar e impedir a demolição do que ainda resta da construção. Manifestar-se é o mínimo que podemos fazer.

Com certeza a Umbanda continuará trabalhando normal e dignamente independente da demolição da casa. Os orixás e entidades não precisam disso, estão muito acima dessas coisas mundanas, mas aos homens, aos encarnados, cabe o mínimo de respeito à crença alheia.

Esperamos que esse patrimônio histórico seja preservado, mas caso isso não aconteça, continuemos avante com a nossa caravana, independente do ladrar dos cães. O máximo que eles conseguem é chamar a atenção para a nossa causa, pois uma casa pode ser demolida, mas a espiritualidade jamais.

Douglas Fersan
Outubro de 2011.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Santuário de Umbanda e o plantio de árvores - a Umbanda a favor da ecologia




FEDERAÇÃO UMBANDISTA DO GRANDE ABC

SANTUÁRIO NACIONAL DA UMBANDA

Vale dos Orixás

CONVIDA
A todos os Irmãos de Fé, a levarem mudas de árvores típicas da Mata Atlântica, para plantarmos juntos, no dia 15 de outubro (sábado), às 9:00 horas.


Precisamos de alguns exemplares das seguintes árvores: Abacateiro-do-mato; Alecrim-de-campinas; Araçá-rosa; Araçá-roxo; Araribá; Cambuci; Carvalho; Cedro; Embaúba; Figueira; Ipê-amarelo; Ipê-roxo; Jacarandá; Jequitibá; Manacá-da-serra; Peroba; Pitangueira; Palmeira e Quaresmeira-roxa. Com tamanho a partir de 1 metro.


Cada planta dará acesso à entrada no Santuário para 2 pessoas.

Vamos nos unir para mostrar que a Umbanda é uma religião que respeita a natureza e luta pela sua preservação.

A melhor forma de calar os difamadores é através do bom exemplo. Que cada irmão umbandista faça a sua parte na construção de uma imagem positiva da nossa religião.

domingo, 2 de outubro de 2011

Mensagem do Sr. Zé Pelintra




Mensagem do Sr. Zé Pelintra

Boa noite!

Toda música pode ser cantada para todos os Orixás,
Desde que seja cantada de modo sagrado.

Dentro de cada mulher habita uma mulher maravilhosa,
Que nos sustenta, nos alimenta, que é amor, ternura
E que criou toda essa terra para a gente abençoar.

Malandro é mulherengo? É sim.
Ele não pode ver uma mulher, que ele ajoelha e bate a cabeça.
Esse é o mistério da malandragem. O resto é besteira.

Quem está falando aqui, é o chefe de uma grande falange de Zé Pelintra.
É o chefe de uma legião de Malandros.
Então, eu sei o que estou falando.

Malandro não é traficante de morro.
Se tiver traficante de morro como Malandro,
Ele já se converteu à Luz.
Dá para entender o que estou falando?

Malandro não faz mal a ninguém.
A Lei da Malandragem é a lei da alegria de viver.
É a lei de poder ajudar dentro da Lei Maior e da Justiça Divina.
De modo feliz, alegre, espontâneo.
Essa é a Lei da Malandragem.

Então, sou sim. Sou mulherengo.
Do lado sagrado, eu sou sim.
Toda mulher para mim, é mãe.
Toda mulher para mim é linda.
Não tem defeito.
E os Malandros que são Malandros, sabem do que estou falando.
Então, se sintam amadas por um Malandro.

Eu já fui Mestre de Jurema.
Eu trabalho em qualquer Linha desta Umbanda Sagrada.
Que pra mim, é mãe.
E só podia ser mãe, por isso é sagrada.

Quem trouxe esta Linha da Malandragem foi o Zé Pelintra.
Para abrigar os milhares de espíritos que se encontravam desequilibrados.
No sentido do amor, da paixão.

Eles passaram por um processo de aprendizado.
Dentro deles foram tomados pela mãe, pelo sagrado feminino.
E servem com toda devoção.

Nosso símbolo é a lua.
Eles trabalham de madrugada, sob a luz do luar.
A luz do luar é nosso prazer, porque a mãe está olhando para a gente.

Quando firmar para Zé Pelintra e para Malandro,
Tenham consciência disto.
Eu não tolero qualquer tipo de desrespeito a qualquer mulher.
E quando eu vejo, vou em cima e mostro como se respeita uma mulher.

O feminino é o poder.

O masculino só direciona esse poder.

Todo poder divino reside no feminino.

O sagrado masculino dinamiza esse poder.

É profundo, não é?



Deus abençoe, guarde e guie!



Se precisarem de mim, estou à disposição.

Uma vela branca ou vermelha,

Um copo de água ou de pinga.

Ou só o coração de vocês.

Eu vou sempre estar ao lado de vocês para o que der e vier.



Deus abençoe!

Que assim seja!

Salve a Umbanda!





Mensagem transmitida pelo Sr. Zé Pelintra, por meio de seu médium, Marcel Surya, em 21/09/11, quarta feira, desenvolvimento mediúnico, turma 3, gira de Marinheiro, com chamada de Malandro e manifestação do Sr. Zé Pelintra, sustentada por Pai Obaluayê e Mãe Oxum. (Gira dirigida pelo Marcel Surya). (Mensagem transcrita pela Márcia Nunes).

Templo/Escola Colégio de Umbanda Sagrada Pena Branca
Enviado por Alexandre Cumino.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

As crianças - por Adriano Camargo



“Papai me mande um balão, com todas crianças que têm lá no céu...

Tem doce papai, tem doce papai, tem doce lá no jardim “

Muita festa e alegria com essa linha de trabalho, destro dos rituais de Umbanda Sagrada!

É praticamente impossível não reagirmos também com felicidade ao vê-los “brincando” nos terreiros.

Cosminhos, erês, ibejada, ou simplesmente “as crianças” são comemorados neste mês de setembro, sincretizados ao culto católico com São Cosme e São Damião.

Trazem muita força de trabalho e em suas manifestações, traduzem a essência da pureza e simplicidade. Renovadores por excelência são amparados pela linha do Amor (Oxum e Oxumaré), mas não perdem sua essência elementar.

Vemos muitas crianças da água, das matas, das praias, alguns caboclinhos e caboclinhas, etc.

Seus nomes simbólicos normalmente no diminutivo, dificilmente traduzem sua essência original, mas isso é totalmente desnecessário, pois para a pureza não é necessária a tradução.

Alguns ainda pertencem ao estágio encantado da evolução, normalmente os que se apresentam por nomes simbólicos ligados a falanges ou mesmo a elementos da natureza, como: Pedrinha, Coquinho, Ventinho, etc.

Trabalham brincando e brincam trabalhando. Quando solicitados, são excelentes guias de trabalho e atendimento, ótimos curadores e fantásticos orientadores espirituais. Quem nunca se sentiu também criança de frente a uma manifestação dessa linha. E quem melhor senão nossa “criança interior” para ouvir e captar conselhos dados por outra “criança”.

Não subestimemos esse irmãozinhos do astral e cultuemo-los, e oferendamo-os sempre que necessário ou mesmo por agradecimento.

O sincretismo se dá ao fato de as crianças no culto de nação, estarem ligadas ao Orixá Ibeji, que são dois irmãos gêmeos. Como os santos católicos Cosme e Damião, irmãos gêmeos e médicos, que pereceram decapitados, porque praticavam a medicina gratuitamente em socorro dos pobres e das crianças infelizes e abandonadas. São protetoras da Medicina e de todas as crianças do mundo, inclusive as desencarnadas que ainda não completaram o círculo dos renascimentos .





Oração a São Cosme & São Damião

São Cosme e São Damião, que por amor a Deus e ao próximo vos dedicastes

à cura do corpo e da alma de vossos semelhantes, abençoai os médicos

e farmacêuticos, medicai o meu corpo na doença e fortalecei a minha

alma contra a superstição e todas as práticas do mal. Que vossa

inocência e simplicidade acompanhem e protejam todas as nossas crianças.

Que a alegria da consciência tranqüila, que sempre vos acompanhou,

repouse também em meu coração. Que a vossa proteção, São Cosme e São

Damião conserve meu coração simples e sincero, para que sirvam também

para mim as palavras de Jesus: “Deixai vir a mim os pequeninos, pois

deles é o Reino dos Céus “.

São Cosme e São Damião rogai por nós..

27/09/2011

domingo, 25 de setembro de 2011

Festa de Cosme e Damião do Templo de Umbanda Lar de Preto Velho



No dia 18/09/2011, o Templo de Umbanda Lar de Preto Velho realizou a sua primeira festa em homenagem a Cosme e Damião – que representam as crianças na espiritualidade – no Santuário Nacional de Umbanda.

Como que influenciados pela energia das crianças, os médiuns e cambones estavam todos felizes, exalando alegria e sorrisos, manifestando a satisfação em estar ali, naquele lugar bonito, abençoado, agradecendo às crianças do astral.
Ao mesmo tempo simples e farta, a festa estava como qualquer criança gostaria de ver: repleta de doces, brincadeiras, sorrisos.

Cada membro do grupo doou um pouco de si, através de seu trabalho, ou de doces, ou de boa vontade ao servir cada entidade manifestada em terra, bem como à assistência, que comparecem eu peso nesse dia. Harmonia plena e total, tal qual foi a proposta do grupo ao ser criado.

No entanto, o mais importante ninguém viu. O axé das crianças sendo derramado sobre cada um ali presente. A magia inocente, porém sábia, dos espíritos pueris, que nos agraciaram com as bênçãos de saúde, harmonia e paz.

Pouco compreendidas, as crianças do Astral não são simplesmente espíritos infantis. Não são como as crianças encarnadas, que ainda dão os primeiros passos no aprendizado da vida. Embora manifestadas de forma infantil, são espíritos sábios, que usam do arquétipo da inocência para nos mostrar que a vida é simples e que nós, em nossa suposta maturidade intelectual, moral e espiritual, é que complicamos.

Assim, como as crianças às vezes nos surpreendem, os “cosminhos” (como também são chamados esses espíritos) nos dão conselhos que mesmo os mais velhos desconhecem. E assim aprendemos mais uma lição: que nenhum ser do universo, mesmo aquele que parece mais frágil, deve ser subestimado. Todas as criaturas de Olorum têm a sua função e a sua importância no funcionamento do Universo.

Junto aos pretos velhos e aos caboclos, as crianças formam o tripé da Umbanda, representando respectivamente a sabedoria (e por que não dizer também, a resistência?), a força e pureza. Em outras palavras, manifesta-se na Umbanda, a perfeição do Universo e do próprio Deus, então só nos resta render homenagens e louvores a essa perfeição. E para celebrar a pureza, nada melhor que usar o arquétipo das crianças e aquilo que elas mais gostam: os doces e as brincadeiras. Aprendemos com as crianças, isso é fato.

Ao final da festa, saímos todos um pouco melados, mais pesados, com a glicemia um pouco mais elevada. Mas também estavam mais elevados nossos espíritos, nossas energias e a nossa disposição para encarar a semana que se iniciava. Saímos todos carregando um pouco da pureza das crianças em nossos corações e um pouco de sua alegria em nossos lábios que não se envergonhavam por sorrir.

E assim continuamos nossa jornada umbandista. Seguindo os bons exemplos que recebemos das entidades, colocando em prática as lições por elas ensinadas e levando ao mundo inteiro a Bandeira de Oxalá.

Salve as crianças na Umbanda.
“Andorinha que voa, andorinha,
Leva as crianças pro céu, andorinha
Xô, xô, xô, andorinha
Leva as crianças pro céu, andorinha...”

Douglas Fersan
Setembro de 2011

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Intolerância religiosa e suas estratégias (repasse) - por Douglas Fersan



A intolerância religiosa se manifesta nas mais diversas instâncias e nem nos surpreende mais. O que surpreende é a falta de bom senso, os artifícios usados para que ela seja praticada.

O Parque do Pedroso, localizado em Santo André (próximo à divisa com São Bernardo do Campo), era uma antiga pedreira, constantemente agredida pela atividade econômica ali praticada.

Durante a década de 1970, a Federação Umbandista do Grande ABC (FUGABC), na pessoa do Pai Ronaldo Linares, encampou, com o devido alvará governamental, a imensa área (645.000m2) - que passou a ser conhecida como Santuário Nacional de Umbanda - e, além de criar um espaço para a prática religiosa umbandista, mantém uma política de preservação ambiental, pois todos os trabalhos ali realizados estão em sintonia com a filosofia da religião, que vê na natureza uma das maiores manifestações divinas, justamente à qual presta culto.

Nenhum trabalho realizado desrespeita ou agride a natureza. Ao contrário disso, a harmonia com a flora e a fauna da região são perceptíveis e fazem parte das regras estabelecidas para aqueles que fazem uso do local. Assim, uma imensa área que seria destinada à degradação, hoje é preservada e respeitada. Mas para alguns isso constitui um “problema” (sim, entre aspas): o problema é que essa área é preservada por umbandistas.

Já faz um bom tempo que o Santuário sofre ataques por parte justamente daqueles que deveriam respeitar os direitos do cidadão (como a liberdade de culto religioso) e do meio ambiente. Sob a absurda alegação de que a estrada de acesso ao local (uma estrada de terra, simples, cercada de mata atlântica) provoca prejuízos ao meio ambiente, representantes do Poder Público tentam fechar o acesso ao Santuário. São os intolerantes de plantão, usando pretextos sem qualquer nexo para tentar impedir a prática de uma religião, a qual com certeza não conhecem ou compreendem). E não vou dizer aqui que são evangélicos, como muitos devem pensar em princípio, pois os verdadeiros evangélicos honram a Bíblia que carregam e sabem respeitar as diferenças. Essas pessoas devem ser taxadas apenas como desconhecedoras e intolerantes, independente da fé que professam.

Na última semana de agosto, a Promotoria Pública de Meio Ambiente do município de Santo André, num ataque descabido, solicitou ao Poder Judiciário que a estrada de acesso ao Santuário fosse fechada. A ação não se concretizou, mas ainda corremos o sério risco de perder esse acesso, nos obrigando a fazer outro caminho, mais longo, no qual os automóveis irão poluir dez vezes mais e a degradação, antes ínfima, será mais notória. É uma simples questão de lógica: a troca de uma estrada curta por outra dez vezes mais longa em nada favorece a preservação do meio ambiente, portanto fica muito clara as intenções por trás de tal atitude.

De qualquer forma o Santuário não será fechado. Se o caminho for dez vezes mais longo, faremos um caminho dez vezes mais longo. Se for cem vezes mais longo, o faremos também, e os orixás hão de tornar a distância mais curta para nós. Porém, não vamos deixar que essa medida arbitrária se concretize. Vamos nos manifestar, enviar emails aos vereadores e demais instâncias do poder público manifestando nosso repúdio, a falta de lógica dessa situação e o desrespeito a uma das maiores manifestações do Estado democrático: a liberdade de culto.

Lembrando mais uma vez que o Santuário não fechará. Mas também não nos entregaremos a essa medida sem luta, sem manifestar nosso repúdio ao ato e o nosso orgulho ao trabalho que vem se realizando honesta e honradamente há quatro décadas. Isso também é levar adiante a Bandeira de Oxalá.

Repasse essa mensagem.

Douglas Fersan
09/09/2011

domingo, 7 de agosto de 2011

Caridade verdadeira e caridade maculada - por Douglas Fersan



No meio umbandista o que mais se ouve é a máxima de que a caridade é a base de tudo, da religião, da espiritualidade, da evolução e até da salvação (como se estivéssemos pré-condenados a alguma coisa – esse é um ranço do mito cristão do pecado original). Não há erro algum em apregoar a caridade. Ela traz benefícios para quem a recebe e principalmente para quem a pratica, pois serve de estímulo à prática religiosa e a elevação da alma, mas a pergunta é: somente a caridade visível, palpável é válida?

Não resta dúvida que toda forma de caridade é importante, no entanto será que todo sentimento por dentro de quem a pratica aos olhos de uma assistência é puro e realmente verdadeiro?

Será que quando adentramos o terreiro, o nosso solo sagrado, estamos realmente em harmonia com o astral, tornando dignos os nossos pés de pisarem esse chão? Ou será que já entramos pensando (e supervalorizando) nos problemas que poderão acontecer no decorrer da gira?

Será que cumprimentamos o nosso irmão-de-fé com um sorriso franco, vindo verdadeiramente do coração ou o fazemos somente para cumprir um protocolo? Será que vemos naquele irmão um semelhante, suscetível a erros e acertos como qualquer ser humano ou o olhamos por cima, como se estivéssemos em um pedestal que nos permite dirigir esse olhar pedante àquele a quem deveríamos amar e respeitar como um membro da família?

Será que quando vemos um iniciante na religião o tratamos como uma jóia rara, mas que precisa ser lapidada, ou fazemos chacota das suas incertezas e o acusamos de mistificar quando ele, de alguma forma, manifesta as energias que o cercam? Será que temos toda essa luz para apontar o dedo e julgar alguém? Será que lembramos de olhar no espelho de vez em quando e analisar nossos próprios erros?

Quem de nós se lembra que geralmente acusamos os outros daquilo que somos capazes de fazer, e não daquilo que as pessoas realmente fariam?

Um terreiro de Umbanda não é um lugar qualquer. Não é um ambiente de trabalho mundano, onde qualquer tipo de assunto pode ser tratado de maneira leviana e qualquer tipo de atitude pode ser tomada. As atitudes devem condizer com o propósito de uma casa espiritual, quem foge dessa regra deve repensar seriamente as suas atitudes e a sua religiosidade.

Mas estamos ali para praticar a caridade. A caridade justifica tudo.

Muitos acreditam que o fato de estar praticando a caridade, lhes permite e justifica as atitudes descritas acima. Tudo pode, desde que a caridade seja praticada?

Será?

De boas intenções alguns lugares não tão bons estão lotados. De palavras bonitas algumas bocas imundas estão cheias. Da mesma forma que estão cheias quando, longe da multidão, ou melhor, próximo apenas do seu círculo mais íntimo, de maledicência, escárnio, fofocas. Será que nesse caso a caridade justifica tudo?

É preciso começar a discutir a ética em todas as esferas, inclusive no meio umbandista. Cada um deve vigiar o próprio comportamento constantemente, a fim de não conspurcar a religião como um todo, pois o leigo e os detratores da Umbanda não dizem que essa ou aquela atitude é individual, e sim que é uma atitude da Umbanda. A religião como um todo é maculada e quem é o culpado?

É muito fácil ir a um terreiro, vestir branco, bater palma, cantar os pontos e dar passagem às suas entidades. Também é fácil associar tudo isso a uma postura ética, basta olhar um pouco para si e menos para os outros. E reconhecer que, apesar de trabalhar com a mediunidade, não é melhor que ninguém. Também não é difícil lembrar que somos meros instrumentos; quem cura, abre caminhos e quebra demandas são as entidades e os orixás, e não nós.

Portanto, pratique caridade, mas a caridade verdadeira, não a caridade envenenada, que já vem contaminada com a seiva amarga das vaidades humanas. Assim você conseguirá ajudar não apenas aquele que procura o terreiro, mas a si também.

Você já olhou no espelho hoje?
Não?
Então vá.

Douglas Fersan
07/08/2011

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Umbanda é Xamanismo - por Alexandre Cumino



Há tempo venho estudando o Xamanismo, procurando estabelecer pontos de semelhanças e diferenças com a Umbanda. Uma das questões que me direcionou a esse estudo e sempre fez despertar minha curiosidade por outras culturas religiosas e espiritualidades diversas é o fato de que na Umbanda se manifestam espíritos de origens diversas, desde um caboclo brasileiro, um escravo, um aborígene, um hindu, um inca ou egípcio.

Essas entidades que alcançaram, e agora se manifestam na Umbanda, não foram umbandistas em sua última encarnação, logo nos ensinam que é possível evoluir e ascender por meio de qualquer tradição, desde que encontre um caminho ético e uma proposta virtuosa. Querer conhecê-los a esses mentores de Umbanda, é mergulhar em universos diferentes e muito ricos cultural e espiritualmente. Essas incursões nos permitem dar conta de que há algo de incomum que permeia as várias culturas do sagrado, independente da complexidade ou evolução tecnológica que certo povo tenha em relação a outro.

As experiências de transcendência, a mística, o transe e o êxtase espiritual são inerentes ao ser humano, são antropológicos e encontrados em todos os lugares no espaço e no tempo. E da mesma forma encontraremos na Umbanda esses mesmos fenômenos que a liga e aproxima de todas as outras tradições. Esse algo em comum já fez muita gente pensar na existência de uma religião primeira e original da qual todas as outras seriam desdobramentos, enquanto evolução e degradação da raiz primeva. Assim surgiram muitas teorias cientificistas defendidas por cristãos, ocultistas, esotéricos e até umbandistas, que adotaram a idéia de aumbandã, que é uma forma adaptada do conceito de teosofia, ambos com a racionalização de um mito, o mito de uma religião pura, original, que permeia e está presente em todas as outras.

As experiências comuns em todas religiões são mais humanas que “religiosas”, mais espirituais que rituais, mais instintivas que metodológicas, mais pertencentes à sensibilidade que à técnica, muito mais poesia do que prosa. São experiência que vem de nossas entranhas, são viscerais, “humano, demasiado humano”, “existem desde que o mundo é mundo, desde que o homem é homem”, podemos assim buscá-las nas sociedades mais primitivas, antigas e simples.

Essas experiências em sua forma mais bruta (não lapidada), nos mais isolados e remotos grupos sociais que se tem notícia, em toda sua simplicidade em lidar com o transcendente, é o que se convencionou chamar de Xamanismo. No entanto, as mesmas “experiências xamânicas”, boa parte delas, se repetem em culturas mais complexas, consideradas mais evoluídas socialmente ou tecnologicamente falando.

O que é Xamanismo, afinal?

Mircea Eliada, um especialista no assunto, nos afirma que um xamã pode ser um feiticeiro, um mago ou sacerdote, mas nem todo feiticeiro, mago ou sacerdote é um xamã, inclusive definindo que em muitas tribos, o sacerdote-sacrificante coexiste, sem contar que todo chefe de família é também chefe do culto doméstico.

O xamã é o grande mestre do êxtase. Que tem por primeira definição desse fenômeno complexo, e possivelmente a menos arriscada: xamanismo = técnica do êxtase. E por êxtase aqui podemos entender “transe”, estado alterado de consciência.

O xamanismo é uma técnica arcaica de êxtase, ao mesmo tempo mística, magia e religião, no sentido amplo do termo.

Desde o início do século, os etnólogos se habituam a chamar como sinônimos os termos “xamã”, “medice-man”, feiticeiro e mago (em português poderíamos acrescentar a essa lista os termos “curandeiro” e “pajé” – nota da tradução da versão de 2002) para dotar certos indivíduos dotados de prestígio mágico-religioso encontrados em todas as sociedades “primitivas” (p15).

Vemos na obra de Eliade, na tradução para o português, a observação de que “poderíamos acrescentar a essa lista de xamanismo, os termos “curandeiro” e “pajé” ao lado de feiticeiro, mago e medice-man, o que nos leva à pajelança indígena e à pajelança cabocla e suas ramificações e encontros com a cultura afro e européia, a qual fez surgem um sem número de espiritualidades.

A pajelança indígena é um xamanismo realizado pelos diversos grupos indígenas, guardando suas semelhanças e diferenças, em sua pluralidade de práticas, sem no entanto nos ater a quaisquer peculiaridades, podemos dizer que no geral e no específico, seu conjunto de práticas é xamanismo indígena brasileiro.

A pajelança cabocla é aquela praticada por grupos populares que tiveram ou não contato com a pajelança indígena e que realizam práticas muito semelhantes, nas quais algus casos se verifica o praticante justificando a sua ação por meio da explicação de que incorpora o espírito de um pajé (indígena) e que é ele quem realiza a pajelança, na qual o médium em questão está em transe de incorporação.

Agora, trazendo essa reflexão para a Umbanda, temos por parte dos caboclos que incorporam nos adeptos (médiuns) trabalhos mediúnicos que podem perfeitamente se qualificar como pajelança, em muitos casos a justificativa de que se manifesta um caboclo que em vida (em uma das tantas encarnações) foi um pajé e que agora volta para continuar seu trabalho junto ao médium de Umbanda como uma missão assumida. Com relação a essa explicação podemos dizer que aqui quem realiza o xamanismo é o espírito, no entanto, a um observador externo, fora dos conceitos teológicos e doutrinários, o que se vê é aquele homem ou mulher exercendo uma prática xamânica, na qual suas explicações sobre mediunidade e incorporação de espíritos são simples observações do que acontece com ele, o médium, enquanto se realiza o processo que tem em si todas as características xamânicas. Está incorporado de um espírito indígena, pajé e xamã, e nesse momento está realizando xamanismo, pois o médium em sua constituição física está ali presente, seja consciente ou não desse fato. Se faz uma cura, essa se realizou por meio dele, a se fizer alguma bobagem, a culpa é dele também.

Ao incorporar um caboclo que trabalhe com práticas xamâncias, posso não me tornar um caboclo, posso não me sentir um xamã, mas de fato estou sendo o veículo dessa prática que está acontecendo por meu intermédio, estou praticando xamanismo em parceria com uma força, inteligência, uma outra consciência que toma a frente de meu mental e que identifico como caboclo, uma entidade (espírito) manifestante da qual me considero apenas um instrumento, mas que de fato está em mim, realizando a prática xamânica.

Talvez por esse e outros aspectos, o professor de teologia Edmundo Pellizari afirma que “a Umbanda é uma poderosa pajelança urbana”, o que podemos, por associação, expressar como “a Umbanda é um poderoso xamanismo urbano”; não apenas um xamanismo, mas xamanismo, mas também xamanismo em algumas de suas expressões.

Fontes consultados: ELIADE, Micea. O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase. São Paulo. Ed. Martins Fontes, 2002. – CUMINO, Alexandre. História da Umbanda. São Paulo, Editora Madras, 2010.


Publicado originalmente no JUS - Jornal de Umbanda Sagrada.